quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Com Gosto de Vida

não segure nada. nunca.
só você sofre, só você sente.
o mundo apresenta seu peito
para sentir seu grito,
abafar a sua força,
transformar-se com o impacto
das suas virtudes no ar,
dos argumentos que caem no asfalto.
espalhe suas dores pela sala
em fotos picotadas apenas com rostos,
do presente, de celebridades,
de futuros amores e passados parentes.
salpique as frustrações por cima,
uma pitada de angústia a gosto,
e salgue com lágrimas de pedra.



Meu, para o mundo.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Empacote a Mudança

um passo de cada vez.
sereno. muita calma na hora
de contar.
a notícia é pesada,
não vai ser fácil de digerir,
única solução encontrada,
único medo abafado no coração.
os armários revirados e vazios,
pés de meias espalhados no chão
o tapete sob as roupas velhas,
os jeans desgastados e os casacos
encolhidos com as lavagens.
não vai restar nada pra contar história.
agora ela será outra. com outro
morador na casa, mas com os traços
dela espalhados pela nova habitação.
seja apartamento ou seja casa.
seja sobradinho germinado ou
a cobertura com vista pras estrelas.
seja vida. faça da fase que passou
uma lembrança memorável,
com as brigas, as discussões acaloradas
e esclarecedoras.
caminhe com as próprias pernas,
mesmo com pouco cascalho nos bolsos.
chegou, enfim, o toque de recolher
tudo do quarto e empacotar pra viagem.
tomara que com passagem só de ida.
e voltas esporádicas para matar,
mas só a saudade.



Meu, para a fase que vai aí.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Fazem Igual

e tudo começa engraçado:
as piadas que incendeiam sorrisos
algumas gargalhadas sinceras, outras
inseguras, frágeis, quebradas no meio
das folhas jogadas pelas mesas, como
um copo que estilhaça no chão por
ter ficado na quina da mesa.
inclinadas no canto da mesma mesa
para pedir um carinho, buscando
um motivo para iniciar a conversa,
mais uma vez fútil, sobre o dia a dia,
que nada acrescentaria se dante antes
não tivesse existido.
caminha assim as regras dentro da sala,
todos se odiando, fingindo que suas vidas
são maravilhosas, com as contas parcialmente pagas
a ponto de entrarem para o serviço de proteção ao crédito,
comunidade que cresce mais que Paraisópolis,
com mais adesões que a Igreja Católica.
faz parte da vida uma dívida de bar, na padaria
por um pãozinho que não passaram no cartão.
infinita irresponsabilidade gastar mais do que ganha,
um subterfúgio para demonstrar que é melhor
mesmo que a casta diga que é o contrário,
bem longe do que se busca.
luzes apagadas. a última mão a sair fecha a porta
e apaga a luz em função há 12 horas.
essa mão não tranca a porta.
bate o cartão de plástico no dispositivo
magnético, destrava a entrada de vidro.
ela basta às costas.
trava.
igual a todos na hora de falar o que pensam.
igual, tim tim por tim tim, por tim fim.



Meu, para os que não falam.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Que Seja Breve

queria que o tempo parasse
para dar tempo de falar
para poder concretizar
para conseguir chorar
para desabafar feito açúcar
confeiteiro em cima do bolo.
mas o tempo é cruel,
é ligeiro. o tempo que falta,
que me arrasta pra baixo,
que distancia os corações
apaixonados e cegos,
que só aproxima a foice
dos pescoços frágeis.
queria poder comprar tempo,
uns segundos a mais no relógio
uns ponteiros a mais para
usar de marcador de página.
tempo, me leva logo.
acaba com as angústias
livra-me das sombras e
das mazelas de si mesmo.
braqueia os fios de cabelo
do meu amor, sem rancor, sem dor.
me leva pro alto,
bem acima dos mortais
e do piche quente do asfalto.



Meu, para o mundo.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Sua Insustentável Reclusão | Minhas Agitadas Sinapses

percebi-me parado.
pulso firme, dedos sobre as teclas.
a onda cerebral assume um formato
novo, de névoa. modulada pelos vãos
de sangue. bombeado diretamente
do coração da alma.
falta pouco pra voltar ao normal.
sinal? ocupado. falta a linha
ótica que conduz a voz até a
outra ilha.
borbulha a areia sob meus pés.
a calmaria das ondas revela-se
encantadora. dona de si,
como poucos que conheci.
fluorescente branco do luar,
tingindo os fios de cabelo
da mulher ao meu lado.
reclusa em sua carapaça
de ostracismo, resoluta.
água em nossas canelas.
as estações completam o ciclo
e ela continua aqui. em pé,
sem chão.



Meu, para o mundo.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

+ ou -

sentir menos
sentir-se mais.
menos dor,
menos sofrimento,
menos raiva,
menos injúrias,
menos reclamações,
menos traumas,
menos. sentir com o
sentir reduzido.
sentir mais.
mais alegria,
mais lágrimas de felicidade,
mais abraços,
mais risadas,
mais toques,
mais poças d'água com pés descalços,
mais vivo.
sentir-lhe mais.
mas ao mas, sentir menos.
mas. mais. menos.
mais sentir. menos servir.



Meu, para sentir mais.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pelo Futuro

Pelos dias caminhados,
Eu agradeço.
Pelas noites acordado,
Eu dou risada.
Pelos esporros levados,
Eu peço outros.
Pelas brigas amorosas,
Eu peço desculpas.
Pelos gritos e xingos,
Eu me orgulho.
Pelos apertos de mão dados,
Eu me conheci.
Pelos lágrimas escorridas,
Eu me compadeço.
Pelos obstáculos que ainda virão,
Eu me fortaleço.
Pelo futuro,
Eu anseio.



Meu, para o futuro.

Medindo Esforços

Faça do fim do dia a linha
Teça cada palavra
Todo gesto que impulsione
Um novo começo.
Cada verso transforme uma vida
A prosa rítmica do pensamento
Que vai e vem.
Na marola das ondas
No passar das estações
Na junção dos universos,
Incertos e desconhecidos.
Carregue no peito
Sua tribo
Lute por uma causa nobre
Sem esnobar
Ou repudiar o
Cair da noite.



Meu, para o mundo

5:23 a.m.

Gigante emocional permitido
Ecoa pelas letras em naquim
Grita enquanto o bico é
Molhado em lágrimas
De sol, do nascer da lua
Todo teu, você, sempre
Distante de ser qualquer uma
Mais alguém na vida
Descarregada no meio fio
Das feridas sentimentais
Portal das torres cintilantes
Milimetricamente díspares
ímpares a ponto do fracasso
Iminente, preterido da vida dupla
Imponente no pôr do sol alaranjado
Fatalidade do horizonte mínimo
ínfame das horas vagas,
Eternamente constantes durante
Antes e posteriormente
Tocante nas folhas sagradas
Do coração remendado
Traga o sossego dos dias chuvosos
E.o agito da relva na tempestade.



Meu, para a madrugada.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Teu Fim Chegou

se caminhar fosse fácil
tu não estarias aí jogada,
sujando-se na água da sarjeta.
vestindo trapos coloridos,
estampas psicodélicas
da sua época juvenil.
suas atitudes vis,
seu comportamento egoísta,
subjulgando tudo pela frente
e todos que passam pela
sua órbita ocular.
o princípio do estado
vegetativo, gradativamente,
consome suas lembranças,
dilacera seus sentimentos
e nubla teu coração
outrora puro.
prepare a cama de rosas
brancas, com perfume plácido.
o coletor veio cobrar
tua divida, já carimbada
e reconhecida no cartório
das almas.



Meu, para o mundo.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Navalha da Vida

sentado na sarjeta estava
ele, lá, chorando
calado pelos passos dos que andavam.
todos rindo, pulando,
o festival das máscaras de Kabuki
demônios dançando sob a garoa
gelada e fina.
gota d'água cristalina corrente,
firme e quente na face,
rolando pescoço abaixo
até espatifar-se no meio fio
da vida.



Meu, para o mundo.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Me Dá Sua Chave?

a pressão é grande.
suas mãos começam a suar
os dedos tremem
e a caneta cai.
seu olhar embaralha,
desfocado, perde o alvo.
o lábio mordido mostra
a falta de controle.
as palpitações descompassam,
as pernas bambas, o suor
frio que escorre da testa
e trava como uma gota d'orvalho
no seu nariz delicado.
inspire fundo, expire sem pressa.
é o amor que bateu à porta.
mas precisa da chave para entrar.



Meu, em homenagem a nós.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Leito de Corais

tô na beira
do precipício,
suplicando.
ninguém ouve,
ninguém sequer
me vê.
rogo pela fortuna,
guardada,
esquecida sobre as rochas
molhadas.
prezo pelos que
ficarão, e viverão
sem saber meu fim.
resoluto, esperando
a barragem
arrebentar.
sigo com o pensamento
afiado, ligeiro,
afogando as lágrimas
relembrando o altar
das compaixões.
não é fácil,
mas é menos
complicado do que parece:
o matar-se à beira mar,
com o recife colorido
a sangrar a pele.



Meu, para o mundo.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Símbolo de Libra

talvez cega,
de visão turva,
incompreensiva
aos olhos de muitos.

compreendida em provas,
embasada em olhares,
penosos. dolorosos,

cheia de energia,
exaltações.

dizem que ela tarda.
dizem que não falha.
mas também dizem
que é cega.

com bandejas na mão,
que pesam valores,
ideais e conjecturas.

é trancada nas celas,
sonhada pelos cidadãos,
pelos sentados nas cadeiras,
nas tribunas.

ah, maravilhosa estátua
de bandana nos olhos,
cólume.

corruptível.



Meu, para o mundo.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

No Metrô

a porta abriu e subiu
aquela saia branca.
quase transparente,
tímida indecente, linda.
blusa recortada,
rasgada, toda preta.
aquele brilho no olhar,
intelectual, hipnotizante.

passou assim, rapidin
no tempo da estação,
atravessando um túnel
com sinais verdes, completamente
livre, sem fim.

ficou assim,
com o brilho na orelha
desfilando de sandália,
chinelo, tá confuso.
na sombra dos vultos,
o seu tomou conta da retina.
leve, solta,
cristalina.



Meu, para o mundo.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Lavada em Palavras

o fim não é fácil para ninguém. tem sempre o lado que recebe o 'adeus' e, na grande maioria dos casos, é justamente esse lado, o fraco e já fragilizado, que, imperativamente, tem que continuar sua vida, entre pedras e percalços, reerguer suas fundações e prosperar no meio do caos que aquele 'fim' trouxe, repentinamente. os amigos ajudam, sim, mas de qualquer maneira, o maior esforço tem que partir de dentro, do âmago, do estômago, não interessa de onde que venha a força e a vontade de seguir. o fim traz muitas chagas, nenhuma delas esquecidas, apenas cicatrizadas pelo passar dos dias, entre chuvas e ondas de calor, a camisetas transpiradas, e cobertores que acalentam nas noites de frio e nos finais de semana em que o corpo de alguém ou uma visão diferente, complacente, fazem falta. os olhos abrem-se em cada manhã, banhados pelos primeiros raios solares, ainda na posição horizontal, com o teto branco do quarto imerso em uma enorme tela branca de possiblidades, de futuros antes inimagináveis, de mais um dia no presente para ser escrito. é uma tarefa hercúlea e impressionante a de caminhar pé ante pé após a derrota, depois de um dia calculadamente escrito pelo destino que, sem cerimônias e rodeios, serviu apenas para estampar mais uma etiqueta de fracasso na testa e nos móveis impecáveis. os olhos viram-se, agora veem o armário, as portas desgastadas e entre-abertas da correria de escolher uma roupa cômoda para receber o não - tudo no dia anterior, na noite do desapontamento. um lápis no chão. o primeiro sinal de fortunas imprevisibilidades. o nanquim esquecido há tempos em cima da escrivinaninha ditará o tom das pinceladas e gramáticas jorradas no teto branco, na tela do futuro. análise psicológica comprava que os erros no passado são apenas detalhes a serem corrigidos para que os deslizes não aconteçam novamente dentro em breve. falta pouco para o jogo da vida ser preenchido na tela branca salpicada de cimento, revestida com massa corrida. 'o erro de ontem nada mais foi que um presságio, o qual agora a consciência detectou como necessário no trajeto terreno para a correção de lacunas deixada por vidas passadas, inconscientemente enterradas no subconsciente dos lóbulos.' um pensamento recorrente sobrevoa cada atitude tomada nos dias seguintes, nas noites que farão o tabuleiro da estrelas alinhar as peças nas respectivas casas e em correta ordem. mais pinceladas no teto. mais linhas traçadas em preto. algumas gotas caem das estrelas no teto branco e dão vida a um lago de sentimentos no chão, próximo aos dedos calçados pelos chinelos de tira de borracha. um lago que respira esperança, transparência dos desejos escondidos e agora sem mais chance de tornarem-se ocultos. uma criança percorre a lâmina de água do lago preto de nanquim. uma criança livre, alegre, que não tem lógica em suas funções capacitantes, e que apenas vive o dia para se divertir com outras igualmente capacitadas para a felicidade, como ela. o fim, inevitavelmente, remete suas lembranças ao começo das coisas, na pureza dos gestos deixados em cada local e feitos para cada pessoa. é o perído da inocência, de uma existência onde não existem mazelas, o Olimpo da perfeição humana e social, caracterizada no primeiro choro do bebê ao sair do ventre de sua mãe. o tapa que infla a vida nos pulmões e os fazem respirar para florescer mais uma dádiva entregue a cada ser humano. falta pouco para o fim chegar mais uma vez. para o traço ser cortado pela tesoura afiada e implacável. espere. as cenas estão nascendo no branco pendurado pelo concreto acima da cabeça. cenas renovadas, repaginadas nas folhas da sua história. as reticências entram no lugar das imagens serigrafadas, estampadas no livro escrito em harmonia com o passar dos dias e o girar da terra ao redor do sol. uma moldura sem preenchimento está nascendo, oferecendo a chance de desenhar uma nova paisagem, de imprimir sentimentos mais profundos, mantidos em sigilo à sete chaves imaginário da mente. as linhas não precisam ser paralelas, elas nascem em perpendicularidade ao destino, aquele que as mãos agora tomam conta e ditam como será após este primeiro fim. sim! o fim é apenas a borracha de lápis que a vida empresta temporariamente para apagar os momentos insatisfatórios e dar lugar à novas perspectivas, a novos pôr do sol no horizonte plácido. uma lufada de vida, revivida em apenas um ato, de nem 10 minutos. o princípio belo de encarar o desconhecido mais uma vez, munido simplesmente com ideias e um coração recém-acordado de um sonho transitório e embaralhado. as novas conexões perpetuam pelo íntimo do ser, produzindo explosões estelares e fervorasas, impetuosas novidades para os olhos abertos no susto, abertos à força pelas tempéries de uma noite onde tudo pareceu exterminado, finado. a dependência é sistemática, binária, por isso a sua lógica interpreta as necessidades, não calcula o efeito que os desejos têm na influência da vida. um fim libertador de amarras e sensações passadas. um fim para estourar o campo de visão, trazendo a transcendência esclarecedora que há muito buscava-se em meio a sarjetas, conversas longas em mesas de bar, com garrafas vazias empilhadas e guimbas apagadas ao pé das cadeiras, de noites acordado analisando cada passo que tinha levado ao desfecho de mais um dia mundano, insignificante. no fim vem a luz, clara, quente, que abraça e empresta sentido às lutas que são travadas, aos sorrisos que são dispostos nas esquinas, entregues em semáforos em troca de uma ajuda, ou de um singelo 'olá'. por fim, troca-se uma vida encerrada por uma nova tela em branco. lavada por palavras.



Meu, para o mundo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Um Voto Matrimonial

"
não vim aqui para fazer juras e promessas.
estou aqui, na sua frente, olhando nos seus olhos
pra dizer que eu te amo.
te amo como pensei não for possível.
te olho toda manhã, ainda dormindo na cama,
e penso a sorte que tive em te conhecer,
em te fazer sorrir, e em te fazer chorar de alegria.
não vou prometer nada,
até porquê as promessas têm o péssimo hábito de
serem quebradas. são frágeis.
estou aqui, olhando em seus olhos, para dizer
que vou te amar, te proteger.
vou viver para ver o seu sorriso surgir.
para ele alegrar o meu horizonte
e a nossa pintura.
vou viver para te fazer feliz,
porquê só assim eu sei que eu o serei.
eu te amo.
em cada batida do meu coração,
em cada piscar de olhos,
em cada fio de cabelo que jaz na nossa cama.
eu te amo.
e digo que o futuro não importa.
o futuro é nosso para escrever,
como quisermos.
eu me importo com o presente,
com o nosso presente.
porquê sei que só cuidando dele
é que teremos o futuro que rabiscamos.
eu te amo.
"



Meu, para o mundo.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Na Raiz da Meditação

e caiu pedra por pedra,
em sequência rítmica,
tarantinesca, gracejada.

um rolar catártico,
de significados, certezas
dependurados por fios
soltos à correnteza do
rio.

crescente, as águas turbulentas
desconhecidas do dia anterior negro
fundas onde a canela é o mais profundo
do corpo.

aquele trio de palavras jamais
proferidas, previamente marcadas,
sem ensaio antecessor,
sem anseio de sair.

perdeu a batalha?
muitos ficaram pelo chão, feridos,
apaixonados, catárticos.
esquecidos à margem.

agora pouco pro futuro vir,
vai conseguir sorrir?
vai esperar o quê? o próximo rolar
pela montanha?
reajar deitado na toca?
mergulhar no lago cristalino
das esperanças?

o topo da montanha está lá,
estático, deliberando com os ventos
aos sete ventos.
aos picos continentais,
e aguardando o retorno
em assobios.



Meu, para o mundo.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Coração Explícito II

se eu pedir,
prometes que aceita?
só para um passeio no parque,
uma caminhada pela Paulista.
Fotos jogadas nas esquinas,
salpicadas de purpurina e glitter.
seus olhos penetrando a pele,
acalmando minhas sinapses,
alagando os esgotos,
entocando os sentimentos na derme.
promete que diz sim,
pelo menos para começar.
começar bem, com o fim distante,
requerente de uma vida,
retorcida, já cansada.
caminho de percevejos
cada um que espeta,
apenas para avivar um gracejo.
gracejo do seu riso, sem juízo,
sem medo de ser feliz, de ser um dito
escrito na lousa,
quadro negro, sei lá!
seu sorrido gravado,
em giz,
no meu quadro negro.



Meu, para ela.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Coração Explícito

uma brasa acesa no escuro,
pensamentos brilhantes a sua frente,
a típica luz na escuridão
antes do amanhecer
paz na ponta dos dedos,
cansados, doloridos de tanto falar
de tanto buscar palavras
sentimentos quebrados,
agora, remendados com alegria
um sorriso super-cola,
de comercial, banal
mais puro que água cristalina.
sua mina de felicidade,
sólida, incandescemente bela.
formosura semeada em cada fio,
em todo o seu brio.



Meu, para ela, em vermelho.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Entre Tragos

mais um cigarro apagado no cinzeiro. a pilha enchia progressivamente enquanto as horas entravam madrugada adentro. pouco se ouvia, menos ainda sentia naquela noite calorosa, cheia de pernilongos a sua volta e abarrotada de 'bichinhos-de-luz', era assim que conhecia aqueles insetos voadores que apegavam-se aos holofotes nas ruas desertas, que circundavam os televsiores luminosidade incessante. nunca entendeu o por quê dos insetos fazerem isso, talvez buscassem calor, talvez apenas um feixe de luz que os permitesse enxergar melhor pelas sombras da escuridão. não sabia ao certo, mas tinha uma convicção, não suportava aqueles parasitas que sonhavam ser vagalumes, mas faltava-lhes a luz no traseiro. as palavras vertiam-se de seus dedos, hora agressivas, minutos seguintes pacíficas, brandas, como a marola da maré que anuncia o recesso do oceano, apresenta ao mundo o descanso do incansável sacolejar das ondas que rumam ao seu triste e fabuloso fim na arrebentação com as pedras. o que sobraria quando o sol começasse a raiar, além de profundas olheiras e mais um texto estacionado na metade da folha em branco? serviria para preencher o vazio que esquentava o seu coração gélido? teria como continuar assim por quantos outros dias que viriam? era indefectível suas lástimas ao tocar cada tecla, perceptível solução embalada em frascos minúsculos. permanecia indelével como tinta no papel, como sangue no asfalto, permanecia inerte como o vento, que apenas seguia seu caminho até ser barrado por uma parede de concreto e, milagrosamente, encontrar um novo curso curvilíneo para prosseguir e beijar os cabelos dos que passavam, das folhas ressacadas do outono que teimavam em empoeirar as calçadas com suas pétalas marrons e alaranjadas, um prelúdio do que reservaria a primavera daqui meses a vir. impressionante causalidade da vida, perpetuando sentimentos adormecidos no negrume da alma, o buraco negro das afeições esquecidas no vale suntouso das constantes lembranças indiferentes. queria apenas um copo americano com café pela metade, pelando, para sorver as sensações desaparecidas em face dos olhares trocados que roubavam-lhe as sinapses aórticas. um gole por um amor. era o que procurava, dia após dia, incansavelmente, teimando ser possível encontrar a próxima paixão na borra do café que permaneceu no coador encostado na quina da pia, escorrendo seu suor negro pelo gabinete, manchando as portas cândidas. era permitido viver sem amar? viver sem sentir o coração acelerar? era possível que a vida não lhe quisesse retribuir o tanto que as circunstâncias já haviam tirado dele? anos passaram-se até aquele momento, até que a primeira gota salinizada rolasse de seus olhos e tocasse seu lábio. como era possível? 20 anos em flashback. estava em seu aniversário de três anos, mas agora não mais como motivo, e sim como espectador daquela festança módica, de um menino que nem sabia da existência do amor, da existência da saudade. os beijos e abraços incomodavam, mas cada um que o pequeno recebia, fazia verter mais uma lágrima nos olhos do grande. despencando no jardim, com as mãos tapandos os olhares da roda de burocratas e burgueses presentes, permanecia como podia imóvel, sem tensionar um músculo sequer. o cabelo em união metafísica com o jardim do prédio, as folhas penetrando em seus pensamentos, acariciando-lhe as mãos, unindo-se ao pesadelo permanente. nexo? aceitação? complacência? não poderia concordar com o que via, não podia conviver com a hesitação do sim temendo sempre que o não viesse primeiro. não. viver. progredir. o alarme começou a tocar. o sino da vida da manhã. o sinal da busca pela razão, que impulsionava seu tronco e pernas a guinarem da cama e prostrarem-se no chão, chumbados em uma placa de cimento que travava seus movimentos. as amarras da dúvida prendiam-no à cama, embora cada sinapse dissesse para sair, procurar e cultivar o que visse pela frente. cultive o sorriso do flanelinha, preserve o 'olá' do porteiro. nenhum tiro é certeiro, mas uma bala perdida pode encantar, despertar o eu-lírico apaixonado e dormente, o pierrot das tragédias, que sonhava apenas com o beijo da colombina.



Meu, para o mundo.

Pela Metade

entenda, raciocine
não quero te olhar,
quero apenas dormir em silêncio,
lembrar da infância em sonho,
profundo. sono sereno.
belo fantasma meu.
minha parte melhor
esvaiu-se com as lágrimas
sufocadas pelo coração.
nada restou para você,
os pensamentos são vindouros
agora têm atitude,
vontade própria, uma lógica perpendicular
sua horizontalidade ficou pra trás,
bem longe, na convergência
do pôr-do-sol com o horizonte cinza
mesclado de amarelo ouro,
chegado do pote no fim da reta,
torta linha do amor,
complacente, imperdoável.
foi muito intenso,
eu, relapso e bobo,
você implacável e turva,
aquele joguete do destino
existe para nós,
no futuro das pontas,
na intersecção dos nós.



Meu, para o ponto do fim.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Tem Passaporte?

afivele o cinto
a viagem vai começar
rápida, incessante
pra modificar a perspectiva
ver o nascer do sol,
como ele merece ser visto.
as pistas vão ser deixadas,
escritas no concreto fresco
pelo caminho que percorro.
os suspiros de quem passa
e lê, felizmente,
são poucos os que entendem
realmente captam a mensagem.
reflita. pense bem.
a passagem é só de ida.
o destino, ninguém escolhe,
os dias apontam para onde seguir.



Meu, para a próxima viagem.

Você Dita o Tom

o cabelo mudou o cenário
o sorriso ditou a brisa
os olhos encantaram a banda
deu samba, bambo das pernas
jogatina com as canelas
parafina no sapato
só para ver seu gingado
perfeito, releito, feito
ditado amarrado no cadarço do tênis
aquele branco de couro gastado
rasgado, no relaxo do estilo
com cinto fino e blusa de lã
mente sã, minha mente vã.
mostra o caminho
dançando na malha fina
rodopia, libera a serpentina
o rubro dos fios
para a corrente dos rios
nem o frio mais abala
apenas o sol raia,
debaixo das saias
do seu jeito.



Meu, para um novo amanhã.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Enquanto o Futuro Está Parado

tire o pé do chão
sinta as nuvens como um sinal
faça do passado o seu amuleto
pendure na porta da frente
e vá viver o presente.

o futuro não espera,
apenas degela enquanto
você não chega.

as paredes vão se fechar
que fim o dia reserva?
perscrute o vento que entra pela janela
estandartes para os olhares
trôpegos e dançantes.

o futuro pouco para
ele decide seu caminho
enquanto você não chega.

os muros vão desabar
cada veia à beira do colapso
árvores farfalheam sob a fina neve
gorjeios retumbantes ao horizonte

o futuro para
respira, reflete e age
e você ainda não chegou.



Meu, para o mundo.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Mundo que Passou

abra a janela para respirar.
sinta a brisa do mar,
o cabelo voar,
a pele, de luz, se banhar.
aprecie cada momento,
a infidade de pensamentos,
a sobriedade do cenário,
viva, enquanto passa-se o tempo.
descubra a beleza na asa da borboleta,
lembre da natureza avistando uma gota d'orvalho,
embriague-se à sua maneira,
na garrafa, do copo ou na taça,
floresçam expectativas,
desabrochem lágrimas altivas
surpeendendo todos os passantes
delirantes.
'são lágrimas radiantes'.
são instantes. cada um,
importantes.
assopre os erros e o passado
pela fresta da porta,
não de entrada, imaculada.
pela dos fundos, que dá para o que passou.
pelo que passou pelo seu mundo.



Meu, para o mundo.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Pouco que se faz Muito

falta pouco pra começar.
falta pouco pra acordar.
falta pouco pra curar.
falta pouco pra fechar.
falta pouco pra inspirar.
falta pouco pra expirar.
falta pouco pra inflar.
falta pouco pra bombear.
falta pouco pra recordar.
falta muito pra viver.
falta pouco pra terminar.
falta pouco pra pulverizar.
falta pouco pra queimar.
falta pouco pra cicatrizar.
falta pouco pra extasiar.
falta muito pra cair.
falta pouco pra chorar.
falta pouco pra examinar.
falta pouco pra clarear.
falta pouco pra festejar.
falta pouco pra dançar.
falta pouco pra declarar.
falta pouco pra amar.
resta muito a falar.
pouco ar pra respirar.
falta muito,
tempo que falta pouco,
permanece louco.



Meu, para o mundo.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

No Galpão

a bateria ritmou
o baixo contrapontou
a guitarra chorou
o violão chamou
a porta abriu
e você, bom
você não chegou.



Meu, à porta que não me fez sorrir.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

(Ar)Rumando

seu prenome
passado julgado
pela lei dos homi’s
acorrentado na pedra
filosofa.
‘calma’ – ele te diz.
‘socorro’ – você clama
perdida nas horas
atordoada pelos dias
não parecem ter fim
acabam sem que note
vem amanhã, passa o corte,
escreva sua sorte, peça um Norte.
a bússola te abandonou na viela da vida
eu te abandonei no dobrar da esquina
larguei tudo que tinha na vila,
recolhi duas mudas,
calça vestida e pé de chinelo,
troxa no ombro
saindo dos escombros
retornando pro que um dia foi um lar,
e agora sobra vento,
falta tempo
tudo gira lentamente.




Meu, para o mundo.

No Mesmo Chão

flutuar eu quero
amor sincero,
espero, rezo, peço
ninguém atende,
poucos entendem,
outros contestam,
eu só peço, só rezo
espero no querer
benzer.

sobrou muito do todo
aguardo o fim?
vislumbro o teu ‘sim’.
sim, vislumbro o teu sorriso
porto atracador,
meu paraíso.

velejar eu quero,
bento vento,
benzo o acalento,
sofro em silêncio,
rogo em cada manhã
uma solução pagã,
o olhar de uma cristã.

na face, o projeto inacabado,
nos olhos, o futuro projetado
agora turvo,
e lindo.

florescer eu quero,
sua mão, espero,
seus pés descalços no chão
tocando meu coração.

esperar por você,
espero?
quero.



Meu, para ela.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

(En)Sacando

já ensacou tudo?
seus medos?
os receios?
as neuras e nóias?
as dívidas?
seus pensamentos perturbadores?
os sapatos velhos?
aqueles porta-retratos com fotos de ex-namorada(o)s?
o telefone que não para de tocar?
todas aquelas cartas com juras de amor eternas?
aquele amontoado de roupas velhas?
aquela pilha de CD’s?
todos os seus DVD’s?
o seu trabalho?
o mala do seu chefe?
as cobranças da sua família?
a aliança que você usava?
a tv que tira o seu foco?
o iPod que vive acabando a bateria?
o carro que só te dá problema?
já ensacou?
ainda não?
tudo bem. tem mais um tempinho.
questão de 1 ano e 7 meses mais ou menos.
mas faça rápido.
recolha tudo, etiquete, ensaque. lacre.
lacre bem. sabe que essas coisas tem
a tendência de perseguir os donos.
agora, faz o seguinte:
joga.
tudo.
janela.
afora.
depois.
inspire.
expire.
e sinta a liberdade.



Meu, para quem quer se libertar.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sempre na Mesma

e no elevador da vida, só desce-se.
dia sim, dia sim, sim aos dias.
na hora próxima do fim,
sem nem o minuto ter começado,
já foi pre-destinado, desde o meio,
no pulso firme de um coração mole,
que sofre e chora por você,
ele sente sua falta.
sem sentido. nunca fostes minha
e cada dia menos o é.
talvez nunca quisestes ter sido,
embora fosse o que mais pedi,
o pensamento recorrente quando acordo,
a última lembrança antes de adormecer.



Meu, para o mundo.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Resolução

não sei como é,
e não quero entender.
só o que digo:
é preciso resolver.



Meu, para eu mesmo.

quarta-feira, 30 de março de 2011

A Fotografia do Início

as retículas assumem o tablado.
cercadas pelos holofotes das ruas,
esgueirados em plena avenida.
luz em abundância.
olhares apaixonados em calçadas opostas,
sorrisos tímidos, frouxos,
inocentemente vis.
a noite é registrada em noir,
saturada no preto,
contrastada no branco,
puro encanto.
mais um feixe de luz surge,
impetuoso, cândido,
flash majestoso.
os mundos atraídos
por uma lente 50mm.
suspeita-se que seja pouco,
em seu pequeno shutter,
poderosa abertura captadora.
falta espaço compositor.
memória Polaroid,
retrato analógico
de mãos dadas
cruzando o Pacífico.



Meu, para o mundo.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Pretérito Imperfeito

eu estava pronto.
você não.

eu queria te fazer feliz.
você tinha medo.

eu queria te mostrar o meu mundo.
você não me deixou entrar no seu.

eu queria ser seu homem.
você não queria ser minha mulher.

eu queria não ser mais um.
você não queria que eu fosse.

eu queria passar noites em claro conversando.
você não estava aberta a conversas.

eu queria viajar pros 4 cantos do mundo com você.
você não queria sair do lugar.

eu queria que vocie fosse só minha.
você não queria ser de ninguém.

eu queria você.
você não me queria.

eu queria, agora, fechar meu coração.
mas não poderia.

você queria partir. sozinha.
e conseguiu.



Eu, que poderia ser todo teu.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Amontoado

eu juro que tentei. inúmeras vezes. de todas as maneiras possíveis. de todos os jeitos que pensei, que tinha usado, que tinha repensado, que tinha imaginado, que tinha. não queria parar de tentar. no fundo, eu não quero. eu não posso. ele não me deixe. ele não quer que eu pare. ele me acorda à noite, sussurrando: “vai! só mais um dia. você consegue. tenta. tenta!” ele me convence. ele me hipnotiza. mas eu não quero mais. será? bom, eu acho que não quero. eu sinto que não devo continuar, que não devo insistir. mas ele vem e cutuca: “demorou pra conseguir e agora quer parar? por bobagem? que foi? ah, agora tá com medo de arriscar?” ele me convence. quase. melhor, ele me convence mas eu não me convenço que ele já me convenceu. é paradoxal, é esquizofrênico. é inusual. já cheguei a cogitar colocar no papel, criar um fluxograma com todas as variáveis e saídas e respectivos desfechos, mas o lápis teima em manchar a folha em branco com pensamentos desconexos, com frases aleatórias. é assim que ando me sentindo nos últimos tempos: dicotômico, para não entrar em pormenores. confusão mental, já teve? daquela que faz você perder os sentidos? daquela que faz você analisar a vida? daquela que faz você pôr em cheque suas convicções, suas vontades, seus desejos? daquelas que demora pra ser solucionada? é intenso. diariamente intenso. e tenso. os músculos relutam para se mexer. é uma luta hercúlea para tirar a perna direita e depois a esquerda e pôr os pés no chão ao mesmo tempo para caminhar pela manhã. o conforto é inebriante. da cama. mas ele me acorda aos uivos, tal como um lobo ao olhar a lua cheia. lua. amantes. namorados. casal. intenso. tenso esse palpitar aqui dentro. esse amontoado de perguntas que seguem semana após semana sem resposta, sem uma nova informação que acalente. mente. você mente pra você? eu tento não mentir pra mim. mas às vezes peco, escorrego nas palavras e sai alguma inverdade. e ela leva a outra, que cria mais alguma em outra esquina, e por assim segue. dá um oi. um olá. nem precisa ser muito enfático, nem linfático. só um oi. a simples aglutinação de duas vogais que, por coincidência, já são próximas uma à outra. claro que quando pedem para você falar só as vogais. senão, elas estão distantes algumas letras, mas anseiam o momento de serem escritas juntas, lado a lado. tecla depois de tecla. só falta reluzirem, igual a estrela que dei pra ti no nosso encontro. que apontei e nomeia-a com teu nome. teu lindo nome. em você ele fica lindo. orna. combina. casa comigo. de mãos dadas. sorrisos unidos. lábios entrelaçados. mas o oi está distante. no horizonte que os hermanos profetizam em uma bela canção, e eu quero ver, quero que você veja, quero que a gente veja esse horizonte distante.



Meu, para alguém.

terça-feira, 15 de março de 2011

Respire

continue.
corra.
prossiga.
avance.
siga.
caminhe.
ande.
pedale.
patine.
galope.
acelere.
trote.
esquie.
nade.
adiante.

inspire

retroceda.
regrida.
atrase.
desacelere.

expire.

ame.
abrace.
beije.
chore.
grite.
bata.
afague.
xingue.
aperte.
agarre.

respire.



Meu, para o mundo.

sábado, 12 de março de 2011

À Espera

vem sorrir pra mim;
vem,
corre pra mim,
abre os braços pra mim,
vem,
se joga em mim,
recosta seu rosto em mim.

vem,
feliz pra mim,
vem.

vem andando
até trombar em mim,
vem cambaleando pra mim,
te escora em mim.

vem correndo pra mim,
deixa a estrada ver seu Sim,
vem pra mim.

sorrindo,
abraçando,
beijando,
amando.

vem pra mim.
vem.

sem saber,
sem temer,
sem sofrer.

vem.
sem se importar com o fim.

vem pra mim,
sorrir até o fim,
com o seu Sim.



Meu, para...

quinta-feira, 10 de março de 2011

Abri

só ouve. não fala.

deixe eu dizer o que tem aqui dentro,
no centro do peito,
batendo no ritmo,
descompassado pelo seu sorriso.

só preste atenção,
antes de mais nada.

só quis te dar de tudo;
muito de cada coisa,
um pouco do meu coração,
quase toda a minha razão.

só ouve com calma,
minha linda donzela.

coloquei meu sentimento
nas tuas mãos. em vão?
larguei do passado,
pra correr pro futuro.
juntei meus sonhos, tranquei-os,
te dei a chave para liberá-los.

ouve meu coração,
batendo em sua direção.

pulsação sem freio,
sem chão,
no desnorteio.

ouviu?



Meu, para ela.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Uma Folga

queria ter uma folga de mim.
uma folga dos pensamentos ininterruptos, sejam bons ou ruins.
uma folga das preocupações que foram acumulando-se: as contas atrasadas, o risco de despejo, as relações familiares, as divisões familiares.
uma folga dos dias intermináveis.
uma folga das desiluções da vida.
uma folga das noites de insônia.
uma folga das manhãs frias que gelam a alma.
uma folga das tardes sonolentas.
uma folga das pessoas com quem me relaciono.
uma folga das brigas.
uma folga dos desentendimentos.
uma folga dos esquecimentos.
uma folga dos compromisso.
uma folga das oportunidades deixadas para trás e das que estão por vir.
uma folga das mesmas músicas.
uma folga dos meus e-mails.
uma folga do meu msn.
uma folga do famigerado Facebook.
uma folga das tecnologias.
uma folga dos meus livros já lidos e dos que ainda faltam ler.
uma folga das histórias em quadrinho que empilham na minha escrivaninha.
uma folga da melancolia.
uma folga das alegrias disfarçadas em máscaras diárias.
uma folga das mentiras que todos contam, inclusive eu.
uma folga das verdades absolutas que mudam a cada 15 minutos.
uma folga das risadas forçadas.
uma folga das mesmas notícias calamitosas que estampam as páginas dos jornais e dos portais dos jornais.
uma folga da política gonzo que foi instaurada mundialmente.
uma folga dos conflitos armados.
uma folga das manifestações que só amontuam corpos para serem recolhidos depois.
uma folga dos vídeos engraçados.
uma folga dos clipes que são passados em “repeat” na programação dos canais musicais.
uma folga do falso senso de liberdade.
uma folga do trânsito da megalópole.
uma folga dos mendigos pedindo dinheiro nos semáforos.
uma folga das crianças vendendo bala-chiclete-chocolate-água-refrigerante e tudo o que mais possa existir, no semáforo.
uma folga das fofocas.
uma folga das frases feitas.
uma folga do apoio amigo.
uma folga das pessoas que se vão e deixam saudade.
uma folga do despertador.
uma folga da caneta e do lápis.
uma folga do coração.
uma folga dos sentimentos trancafiados a sete chaves.
uma folga do amanhã.
uma folga do fim.
queria uma folga de mim.



Meu, para a folga que não há de vir.

terça-feira, 1 de março de 2011

Enquanto Lá

do quarto dela,
emoldurados na trama da janela.
plenos em pleno voo.
disparates do destino.
mostram-me o horizonte,
colorido em pincéis de aquarela.
moldados,
no sorriso dela.



Meu, para ela.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A Conferência

o clima insistia em permanecer nublado. o anúncio na capa do jornal era o mesmo de 4 dias atrás. as chuvas não iriam cessar.

os escombros continuavam rolando pela encosta litorânea, também do outro lado do mundo.

os japoneses não sabiam como impedir a catástrofe iminente. os centros meteorológicos previam um ano de caótico, sem prenuncio de melhora no horizonte. a luz no final do túnel começava a piscar intermitente.

cada passo a ser dado era meticulosamente pensado, estrategicamente manipulado. dar chance ao erro era um risco que não podiam correr. de forma alguma.

reuniões agendadas em todos os continentes. conselheiros de cada uma das nações foram acionados para uma reunião emergencial. palco: aseembléia da ONU. “Conselho Mundial de Solução Climática”. uma faixa carregava esse nome na porta de entrada do prédio das Nações Unidas. uma fileira interminável de policiais e soldados do exército americano formava uma linha de contenção humana. na frente, manifestantes enfurecidos esperavam uma explicação. em meio ao furor, distinguiam-se xingamentos e ofensas. no olho dos soldados e policiais, serenidade estampada até o último ponto da retina. o olhar fixo no pelotão de fuzilamento ofensivo.

uma guerra estava prestes a ser travada e, ironicamente, na frente do edifício que sustenta a preza pela liberdade e pela harmonia entre os países.

“Queremos solução!” “Nossas casas estão boiando, e você aí, só olhando?” “ Solidariedade já!” “Pelo dinheiro vocês lutam. E pela compaixão?”

esses gritos entoavam em meio ao coração de Manhattan, onde o prédio da ONU está instalado. os vidros dos edifícios contíguos tremiam com tal intensidade que foram ordens de evacuação foram instaurados. em menos de 10 minutos, um raio de 5km foi completamente lacrado. cavaletes da NYPD tomaram o lugar dos carros, das barracas de cachorro quente, dos carrinhos de taco. lojas comerciais, cadeias de fast food, bancos, máquinas de caixa eletrônico, praças. ninguém. ruas absurdamente desertas, dignas de filmes de faroeste. faltavam apenas as bolas de feno rolando para ambientar o cenário.

trovões.

poucos portavam capas de chuva para se protegerem diante da tempestade que caiu sobre suas cabeças. os toldos tinham sido recolhidos. alguns tentaram se alojar embaixo das copas das árvores. nenhum sinal de efetividade.

era o clima dando o tom de como as coisas seriam no decorrer daquele dia.

pingos pesados. estaladas. a mesma chuva que molhava os cabelos e encharcava as roupas, machuvaca os carros, trincava vidros. pedras de granizo. pinturas arranhadas, tetos e capôs amassados. algumas pedras tinham o tamanho de bolas de gudes, outras que arriscavam serem maiores que bolas de baseball.

na corda de contenção humana, os soldados continuavam estáticos. os pedregulhos que caiam do céu não aparentavam gerar incômodo, em contra partida, a massa de manifestantes começava a dispersar. no meio dos soldados, apenas um demonstrou enxugou a água que acumulava na testa para evitar de cair-lhe sobre os olhos. a exuastão era visível no semblante de cada um dos escolhidos para a formação da barricada uniformizada.

as placas e faixas e cornetas e alguns pedaços de pau acumularam-se onde antes estavam a horda em fúria. a tinta vermelha das faixas escorria pela sarjeta, formando um rio rubro. chegava a assombrar e espantar quem passasse em frente a rua. uma cena digna de batalha épica entre gregos e troianos.

do lado de fora, só restava o som da chuva. enquanto dentro do prédio, o que menos se ouvia eram as gotas batendo nas janelas.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Entregue-se

entregue-se.
àquele mar de sensações inebriantes.
preocupe-se em racionalizar menos.
sinta mais. da sua maneira, de uma maneira nova. por um mesmo ponto de vista, ou distorça-o até conseguir enxergar a mesma coisa com um detalhe diferente, uma linha branca tracejada cortando essa visão.
sinta mais do que o necessário. saiba o que é realmente perder o controle, ficar com a sensação de que sua vida não é mais sua, e sim de alguém, ou de algo, ou de vários alguens que você não pensa em viver sem. conheça de perto a expressão “perder o chão sob seus pés”.
sinta mais cada batimento cardíaco. sinta até você pensar que o que está acontecendo é completamente desconhecido. quando chegar nesse ponto, repouse sua cabeça no encosto do sofá, ou até mesmo deite, se isso for fazer você se sentir melhor, e deixe-se levar por essa experiência nova.
sinta seus olhos marejarem. e permita que o afluente que nasceu em suas pálpebras seja beijado pela luz da lua, que os holofotes das ruas iluminem a sua lágrima. permita que elas escorrem sem vergonha de existirem. chorar faz, também, bem aos olhos.
sinta aquele abraço acolhedor. seja envolvido pelo abraço. não importa como. se você for cumprimentar um amigo maior que você e ficar embaixo do braço dele, se o abraço é lateral, com uma mão no peito do amigo e a outra no ombro. aquele abraço em alguém que você não vê há tempos e quer viver aquele momento pelo resto da vida. um abraço do dia a dia, rápido, mas afetuoso. permita ser envolvido pelo abraço que faz você perder a noção do espaço-tempo, aquele abraço que congela os minutos, que quase consegue atrasar as horas.
sinta mais e tente indagar menos.
deixe as incertezas de lado por um instante, e lembre-se como era ser livre antes de carregar o peso do mundo às costas e aproveitar cada sorriso com os amigos, cada conversa de bar que fecha um bar e vai para outro e às vezes acabando na calçada de alguma rua, aproveitar aquele domingo de sol para fazer absolutamente nada, sair da cama, ir para o sofá, levantar do sofá e ir para a cama de novo, correr na chuva como quando você era criança e sua mãe não permitia porque “vai pegar gripe, meu filho! sai da chvua!”.
sinta de verdade que tudo começa de novo ao abrir dos seus olhos pela manhã.
encare como um novo começo, todo dia.
sinta tudo como da primeira vez.
e sinta mais.
e melhor.



Meu, para o mundo.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Foi

solto pouco
louco muito,
sempre desenfreado,
sem freios, cavaletes,
muretas para pará-lo.
entorpecido diariamente
fugindo do passo
em direção ao presente incerto
com certezas que o futuro será melhor.
fez as malas.
bateu a porta às suas costas
uns trocados no bolso,
moedas de época,
com validade atrasada
multas não pagas,
dívidas em cada esquina.
procria contas,
muitas contas,
pouco pequenas.
quis o mundo.
acabou-se em um mar.
o oceano de cheques rasgados.
cédulas picadas.
cartão picotados,
como seus livros.
livros nunca escritos.



Meu, para o mundo.

Ela Vai Caminhar

sua vida vai caminhar.
sua palavra não vai esperar,
página por página será escrita,
alegrias tornar-se-ão memória,
frases soltas às histórias,
lembranças breves da infância,
pipas jogadas ao vento,
banhos de sol no jardim do mundo.

sua vida vai prosseguir,
sua estrada vai expandir.
com o calor do coração,
com as mãos em posição,
posição de oração.
braços levantados aos céus,
nuvens brancas no pano azul,
em fundo nu.

sua vida não vai prolongar-se,
sua vida não vai te esperar.
ela vai seguir
mãos dadas com o destino
perdendo-se em desatino
abraços fortes,
risadas altas, olhos finos.

sua vida vai.
caminhar, sem te esperar.
crescer, sem você acompanhar.
perdurar, enquanto você quiser
viver.



Meu, para o mundo.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Mais do que Poderia

no meio da testa,
o famoso terceiro olho,
aquele maldito que dizem tudo ver.
maldita hora que aparecestes,
oráculo dos infelizes,
companheiro eterno dos cabisbaixos,
chega de ver em excesso.
rebobine, por favor.
volte ao ponto de partida,
o início do jogo,
prometo apitar direito,
fazer marcação homem a homem,
sem deixar bolas escaparem.
entrarei de uniforme completo,
flâmula estampada no peito,
marca íntimo no seio.



Meu, para o mundo.

Outra Hora

maldita luz. justo na hora errada resolveu aparecer. sem problema. será? que será possível contorná-la? deixá-la no plano passado? sem ter que carregar essa angústia dia sim, dia sim, caminhando lado a lado com as coisas importantes? com as situacão significativas? com a resiliência que julga-se ter o músculo coronário?
os pés continuam a tocar o chão apenas com a ponta dos dedos. completamente ralados, esfolados do vai e vem de chinelos aos finais de semana, pelas idas à padaria para comprar pão e leite, pelo caminhar no parque durante o domingo ensolarado. um corpo constantemente cansado é difícil de ser carregado para cima e para baixo, ainda mais com o acréscimo do mundo às costas.



Meu, para o mundo.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Longo Muro

partiram.
fugiram da loucura,
buscaram o ermo,
o sereno. aquele pedaço tenro,
sem ligeirismos.
encontraram-se no pedágio da vida,
troxas nas costas,
chinelos calçados,
coloridos harmoniosamente,
alma sorrateiras, eternas.
recíprocas verdadeiras.
leves e soltos
com o futuro a Deus dará,
resolveram arriscar.
lenços na lapela,
tatuagens na costela,
em segundo veio o começo,
deixaram a rotina definir o futuro,
nem lembraram do porto,

saudade do porto seguro.

ancorando juras,
naufragando perjurios,
levantando promessas
afastando rédeas.
impróprios passados,
passos largos abrindo janelas,
cenas pitorescas no parapeito,

saudade do porto seguro,

balaustre do mundo,
andavam, pé ante pé.

pelo fino frágil muro.



Meu, para o mundo.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

M's

mundos moles.
muros marrons.
métricas maiores.
marias madalenas mímicas
mários, manuel e machado, mutilados.
mesas mexidas, molhadas,
mel mundano,
mantas magentas manchadas.
mantos místicos
mentores, mestres, missionários
minúsculos movimentos metódicos
maiúsculos municípios mesclados,
meretrizes, mães miméticas.
momentos.
marcas.
mãos.
más.



Meu mundo.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Aurora Hora

falta pouco pra alcançar
livre-se dos vícios.
das amarras. quebre os elos.
desembarace o raciocínio.
rabisque. folheie os clássicos
não siga as métricas
dê espaço ao senso comum
deixe-o ir. caminhar só.
pense com agilidade,
realize com eficiência,
profanos, santos e loucos,
uni-vos em corrente
água condutora de energia
sinapses elétricas, incongruentes.

sufoque suas ideias velhas
limpe as gavetas da memória.
chegou a hora de andar.
chegou a hora de prosseguir.
chegou a hora. a primeira hora.

falta muito por esperar,
pouco tempo a perder.
singelos abraços,
sorrisos cândidos, recepções serenas.

sufoque as ideias medianas,
limpe os armários da mente.
chegou a hora de andar,
chegou a hora de correr,
chegou a hora.
a última da aurora.



Meu, para o mundo.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Sabe-se lá

Vai saber onde vai dar,
Que fim isso tudo vai levar,
Que começo louco e inesperado
Resto curtir a viagem e torcer,
Torcer para que nenhum,
Nenhum saia machucado.
Espere para ver a felicidade,
Agradeça por esta nova oportunidade
Preste atenção aos detalhes
Mínimos, como sempre serão,
Ínfimos e subestimados,
Desde o começo da nação.
Um com um pode ser onze.
Um com um pode ser dois.
Um com um pode ser o complemento.
Complemento de almas,
De mãos e corações,
Pensamentos dissonantes,
Sentimentos conflitantes.
Lembre que cada conflito
Culmina em um trégua
Pacífica, harmoniosa.
No caso, que seja, também,
Furiosa e calamitosa.



Meu, para o mundo.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

É

é lento.
é arrastado. levemente demorado.
é irriquieto.
é solto. levemente louco.
é um pouco de tudo.
é o todo de muitos.
é o ponto final do nada.
é a vírgula do meio-fio.
é nada.
é quase tudo.
é um grão no ar.
é um sorriso na esquina.
é um pássaro a cantar.
é uma gota de chuva rolando na esquadria.
é pelo bem.
é inclinado para o mal.
é complexo.
é um fluxo.
é pouco mais que isso.
é muito menos do que isso.
é quase o meio.
é quase.
é.



Meu, para o mundo.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Próximo

fluxo sanguíneo disparado.
coração plenamente dilatado.
pálpebras intocáveis.
púpila infinitamente dlitada.
sinapses ininterruptas.
respiração contínua.
respiração extensa.
transpiração diária.
a mente não ofusca.
não diminui, não retrocede.
apenas vê um caminho.
longo. turbulento. contínuo.
que se perde no horizonte.
este cheio de expectativas.
a mente não cansa de pensar.
não cansa de divagar.
de devanear.
e de esperar.
esperar pelo próximo papel em branco pra riscar.
pelo próximo lápis para apontar.
pela próxima linha torta para apagar.
pela próxima noite.
e pela manhã seguinte.



Meu, para o mundo.