quinta-feira, 17 de março de 2011

Amontoado

eu juro que tentei. inúmeras vezes. de todas as maneiras possíveis. de todos os jeitos que pensei, que tinha usado, que tinha repensado, que tinha imaginado, que tinha. não queria parar de tentar. no fundo, eu não quero. eu não posso. ele não me deixe. ele não quer que eu pare. ele me acorda à noite, sussurrando: “vai! só mais um dia. você consegue. tenta. tenta!” ele me convence. ele me hipnotiza. mas eu não quero mais. será? bom, eu acho que não quero. eu sinto que não devo continuar, que não devo insistir. mas ele vem e cutuca: “demorou pra conseguir e agora quer parar? por bobagem? que foi? ah, agora tá com medo de arriscar?” ele me convence. quase. melhor, ele me convence mas eu não me convenço que ele já me convenceu. é paradoxal, é esquizofrênico. é inusual. já cheguei a cogitar colocar no papel, criar um fluxograma com todas as variáveis e saídas e respectivos desfechos, mas o lápis teima em manchar a folha em branco com pensamentos desconexos, com frases aleatórias. é assim que ando me sentindo nos últimos tempos: dicotômico, para não entrar em pormenores. confusão mental, já teve? daquela que faz você perder os sentidos? daquela que faz você analisar a vida? daquela que faz você pôr em cheque suas convicções, suas vontades, seus desejos? daquelas que demora pra ser solucionada? é intenso. diariamente intenso. e tenso. os músculos relutam para se mexer. é uma luta hercúlea para tirar a perna direita e depois a esquerda e pôr os pés no chão ao mesmo tempo para caminhar pela manhã. o conforto é inebriante. da cama. mas ele me acorda aos uivos, tal como um lobo ao olhar a lua cheia. lua. amantes. namorados. casal. intenso. tenso esse palpitar aqui dentro. esse amontoado de perguntas que seguem semana após semana sem resposta, sem uma nova informação que acalente. mente. você mente pra você? eu tento não mentir pra mim. mas às vezes peco, escorrego nas palavras e sai alguma inverdade. e ela leva a outra, que cria mais alguma em outra esquina, e por assim segue. dá um oi. um olá. nem precisa ser muito enfático, nem linfático. só um oi. a simples aglutinação de duas vogais que, por coincidência, já são próximas uma à outra. claro que quando pedem para você falar só as vogais. senão, elas estão distantes algumas letras, mas anseiam o momento de serem escritas juntas, lado a lado. tecla depois de tecla. só falta reluzirem, igual a estrela que dei pra ti no nosso encontro. que apontei e nomeia-a com teu nome. teu lindo nome. em você ele fica lindo. orna. combina. casa comigo. de mãos dadas. sorrisos unidos. lábios entrelaçados. mas o oi está distante. no horizonte que os hermanos profetizam em uma bela canção, e eu quero ver, quero que você veja, quero que a gente veja esse horizonte distante.



Meu, para alguém.

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