terça-feira, 30 de novembro de 2010

Falta-se Parecer

parece faltar tato.
parece faltar intimidade.
parece faltar generosidade.
parece faltar. e faltar cada vez mais.
falta-se cada dia mais.
falta-se às escolas.
falta-se às casas. aos apartamentos.
falta-se. fere-se.
fere-se as pessoas.
fere-se os animais.
fere-se as plantas. silêncio.
falta-se silêncio na selva.
falta-se e fere-se na selva, sempre.
selva-se na cidade, fere-se nas casas.
silêncio na falta.
parece que falta sempre.



Meu, para o mundo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Frágil Tempo Veloz

uma atitude pode arruinar um começo? começo de quê? mais uma incerteza que rola pela sarjeta num dia mais comum que qualquer outro. certeza. a única certeza que existe é que nada é certo, além daquele papo ultrapassado de morte e impostos. os mortos pagam seus impostos também, mas a Receita Federal dever ser meio diferente lá no Céu, ou no Inferno. Tudo depende. De uma vida vivida dentro dos padrões ou se totalmente fora do quadrado delimitado assim que o médico corta o cordão umbilical. um quadrado mascarado por dias de céu azulados e nuvens brancas, e por dias rubros e obscuros, embaçados pelos olhares fumegantes dos outros. mas a vida é assim: chega sem avisar e passa sem nem perceber sua existência. logo, você está moído pelo tempo e abatido pela vida. o brilho e ternura somem do olhar, a pele enrugada pelo sol escaldante, tudo igual. quem tem 10 hoje amanhã tem 58. quem tem 58, quer viver como se tivesse 18, mas morre com 60 por causa dos excessos. a velocidade da idade é relativamente proporcional ao que você faz da sua vida. você pode viver 30 anos como se vivesse 70, ou pode viver 90 como se vivesse 20. o tempo muda as personalidades, delineia o caráter, mas não muda uma coisa: a fragilidade da carne.



Meu, para o mundo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Não Custa

é das alturas que vem a liberdade. de ir e vir. de andar para trás, pelo revesso, na expessura fina da linha bamba da vida. rindo ao caminhar, sem olhar para o que passou, focado no futuro estampado na retina do olhar, sem preocupações, sem ligações de cobrança de bancos, de amigos saudosistas que não sabem viver bem na companhia de si mesmos.

liberdade que muitos sonham, todos querem e quase nenhum tem. a vida leve, altiva e sincera de um nômade notívago, dormindo nos bancos dos parques da vida, levantando com sustos de guardas e pessoas aleatórias. banhando-se nas fontes públicas de águas límpidas e potáveis.

persistir por um amanhã pleno, entalhado na madeira mais nobre, da casa mais alta, do pico mais afastado, na montanha mais gelada, do continente mais remoto, de uma vida que não chegou ainda a existir.

liberdade do futuro desprendido de responsabilidades e de amores infinitos sob o manto azul do mar.



Meu, para o mundo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Tanto que Sinto

apenas sentar ao lado
mãos dadas, escoradas pelo gramado
sorrisos abertos,
escancarados às luzes da ribalta,
incandescentes, indecentes,
tremeluzentes,
palpitações intermitentes,
braços arrepiados,
pálidos de amor,
captados pelas lentes claras
apoiando-se em situações raras.
continuados, mesmo separados.
calados, lado a lado,
simplesmente sentados.
conjugados, dedos inter-calados.
meus olhos inebriados.
seu sorriso espalhafatoso,
amável, sinuoso.
amoroso.



Meu, para o mundo.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Na Garrafa

no além mar está o objeto de desejo,
boiando nas enconstas do Atlântico,
viajando e voltando dos recantos longínquos dos sete mares,
a espera contínua pelo seio terrestre,
o anseio das vozes ao pé do ouvido.
duas mãos agarram-na fortemente,
um som abafado anuncia a violação do lacre.
batidas abafadas pela quebra das ondas,
grãos espalham-se ainda mais sob os pés,
uma folha é desenrolada,
um abraço apertado
a distância irrelevante
aproxima ainda mais.
os olhos passam rapidamente pela folha
“Saudade.”
olhar marejado,
recado dado.


Meu, para o mundo.