terça-feira, 26 de julho de 2011

Lavada em Palavras

o fim não é fácil para ninguém. tem sempre o lado que recebe o 'adeus' e, na grande maioria dos casos, é justamente esse lado, o fraco e já fragilizado, que, imperativamente, tem que continuar sua vida, entre pedras e percalços, reerguer suas fundações e prosperar no meio do caos que aquele 'fim' trouxe, repentinamente. os amigos ajudam, sim, mas de qualquer maneira, o maior esforço tem que partir de dentro, do âmago, do estômago, não interessa de onde que venha a força e a vontade de seguir. o fim traz muitas chagas, nenhuma delas esquecidas, apenas cicatrizadas pelo passar dos dias, entre chuvas e ondas de calor, a camisetas transpiradas, e cobertores que acalentam nas noites de frio e nos finais de semana em que o corpo de alguém ou uma visão diferente, complacente, fazem falta. os olhos abrem-se em cada manhã, banhados pelos primeiros raios solares, ainda na posição horizontal, com o teto branco do quarto imerso em uma enorme tela branca de possiblidades, de futuros antes inimagináveis, de mais um dia no presente para ser escrito. é uma tarefa hercúlea e impressionante a de caminhar pé ante pé após a derrota, depois de um dia calculadamente escrito pelo destino que, sem cerimônias e rodeios, serviu apenas para estampar mais uma etiqueta de fracasso na testa e nos móveis impecáveis. os olhos viram-se, agora veem o armário, as portas desgastadas e entre-abertas da correria de escolher uma roupa cômoda para receber o não - tudo no dia anterior, na noite do desapontamento. um lápis no chão. o primeiro sinal de fortunas imprevisibilidades. o nanquim esquecido há tempos em cima da escrivinaninha ditará o tom das pinceladas e gramáticas jorradas no teto branco, na tela do futuro. análise psicológica comprava que os erros no passado são apenas detalhes a serem corrigidos para que os deslizes não aconteçam novamente dentro em breve. falta pouco para o jogo da vida ser preenchido na tela branca salpicada de cimento, revestida com massa corrida. 'o erro de ontem nada mais foi que um presságio, o qual agora a consciência detectou como necessário no trajeto terreno para a correção de lacunas deixada por vidas passadas, inconscientemente enterradas no subconsciente dos lóbulos.' um pensamento recorrente sobrevoa cada atitude tomada nos dias seguintes, nas noites que farão o tabuleiro da estrelas alinhar as peças nas respectivas casas e em correta ordem. mais pinceladas no teto. mais linhas traçadas em preto. algumas gotas caem das estrelas no teto branco e dão vida a um lago de sentimentos no chão, próximo aos dedos calçados pelos chinelos de tira de borracha. um lago que respira esperança, transparência dos desejos escondidos e agora sem mais chance de tornarem-se ocultos. uma criança percorre a lâmina de água do lago preto de nanquim. uma criança livre, alegre, que não tem lógica em suas funções capacitantes, e que apenas vive o dia para se divertir com outras igualmente capacitadas para a felicidade, como ela. o fim, inevitavelmente, remete suas lembranças ao começo das coisas, na pureza dos gestos deixados em cada local e feitos para cada pessoa. é o perído da inocência, de uma existência onde não existem mazelas, o Olimpo da perfeição humana e social, caracterizada no primeiro choro do bebê ao sair do ventre de sua mãe. o tapa que infla a vida nos pulmões e os fazem respirar para florescer mais uma dádiva entregue a cada ser humano. falta pouco para o fim chegar mais uma vez. para o traço ser cortado pela tesoura afiada e implacável. espere. as cenas estão nascendo no branco pendurado pelo concreto acima da cabeça. cenas renovadas, repaginadas nas folhas da sua história. as reticências entram no lugar das imagens serigrafadas, estampadas no livro escrito em harmonia com o passar dos dias e o girar da terra ao redor do sol. uma moldura sem preenchimento está nascendo, oferecendo a chance de desenhar uma nova paisagem, de imprimir sentimentos mais profundos, mantidos em sigilo à sete chaves imaginário da mente. as linhas não precisam ser paralelas, elas nascem em perpendicularidade ao destino, aquele que as mãos agora tomam conta e ditam como será após este primeiro fim. sim! o fim é apenas a borracha de lápis que a vida empresta temporariamente para apagar os momentos insatisfatórios e dar lugar à novas perspectivas, a novos pôr do sol no horizonte plácido. uma lufada de vida, revivida em apenas um ato, de nem 10 minutos. o princípio belo de encarar o desconhecido mais uma vez, munido simplesmente com ideias e um coração recém-acordado de um sonho transitório e embaralhado. as novas conexões perpetuam pelo íntimo do ser, produzindo explosões estelares e fervorasas, impetuosas novidades para os olhos abertos no susto, abertos à força pelas tempéries de uma noite onde tudo pareceu exterminado, finado. a dependência é sistemática, binária, por isso a sua lógica interpreta as necessidades, não calcula o efeito que os desejos têm na influência da vida. um fim libertador de amarras e sensações passadas. um fim para estourar o campo de visão, trazendo a transcendência esclarecedora que há muito buscava-se em meio a sarjetas, conversas longas em mesas de bar, com garrafas vazias empilhadas e guimbas apagadas ao pé das cadeiras, de noites acordado analisando cada passo que tinha levado ao desfecho de mais um dia mundano, insignificante. no fim vem a luz, clara, quente, que abraça e empresta sentido às lutas que são travadas, aos sorrisos que são dispostos nas esquinas, entregues em semáforos em troca de uma ajuda, ou de um singelo 'olá'. por fim, troca-se uma vida encerrada por uma nova tela em branco. lavada por palavras.



Meu, para o mundo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Um Voto Matrimonial

"
não vim aqui para fazer juras e promessas.
estou aqui, na sua frente, olhando nos seus olhos
pra dizer que eu te amo.
te amo como pensei não for possível.
te olho toda manhã, ainda dormindo na cama,
e penso a sorte que tive em te conhecer,
em te fazer sorrir, e em te fazer chorar de alegria.
não vou prometer nada,
até porquê as promessas têm o péssimo hábito de
serem quebradas. são frágeis.
estou aqui, olhando em seus olhos, para dizer
que vou te amar, te proteger.
vou viver para ver o seu sorriso surgir.
para ele alegrar o meu horizonte
e a nossa pintura.
vou viver para te fazer feliz,
porquê só assim eu sei que eu o serei.
eu te amo.
em cada batida do meu coração,
em cada piscar de olhos,
em cada fio de cabelo que jaz na nossa cama.
eu te amo.
e digo que o futuro não importa.
o futuro é nosso para escrever,
como quisermos.
eu me importo com o presente,
com o nosso presente.
porquê sei que só cuidando dele
é que teremos o futuro que rabiscamos.
eu te amo.
"



Meu, para o mundo.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Na Raiz da Meditação

e caiu pedra por pedra,
em sequência rítmica,
tarantinesca, gracejada.

um rolar catártico,
de significados, certezas
dependurados por fios
soltos à correnteza do
rio.

crescente, as águas turbulentas
desconhecidas do dia anterior negro
fundas onde a canela é o mais profundo
do corpo.

aquele trio de palavras jamais
proferidas, previamente marcadas,
sem ensaio antecessor,
sem anseio de sair.

perdeu a batalha?
muitos ficaram pelo chão, feridos,
apaixonados, catárticos.
esquecidos à margem.

agora pouco pro futuro vir,
vai conseguir sorrir?
vai esperar o quê? o próximo rolar
pela montanha?
reajar deitado na toca?
mergulhar no lago cristalino
das esperanças?

o topo da montanha está lá,
estático, deliberando com os ventos
aos sete ventos.
aos picos continentais,
e aguardando o retorno
em assobios.



Meu, para o mundo.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Coração Explícito II

se eu pedir,
prometes que aceita?
só para um passeio no parque,
uma caminhada pela Paulista.
Fotos jogadas nas esquinas,
salpicadas de purpurina e glitter.
seus olhos penetrando a pele,
acalmando minhas sinapses,
alagando os esgotos,
entocando os sentimentos na derme.
promete que diz sim,
pelo menos para começar.
começar bem, com o fim distante,
requerente de uma vida,
retorcida, já cansada.
caminho de percevejos
cada um que espeta,
apenas para avivar um gracejo.
gracejo do seu riso, sem juízo,
sem medo de ser feliz, de ser um dito
escrito na lousa,
quadro negro, sei lá!
seu sorrido gravado,
em giz,
no meu quadro negro.



Meu, para ela.