segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Que Seja Breve

queria que o tempo parasse
para dar tempo de falar
para poder concretizar
para conseguir chorar
para desabafar feito açúcar
confeiteiro em cima do bolo.
mas o tempo é cruel,
é ligeiro. o tempo que falta,
que me arrasta pra baixo,
que distancia os corações
apaixonados e cegos,
que só aproxima a foice
dos pescoços frágeis.
queria poder comprar tempo,
uns segundos a mais no relógio
uns ponteiros a mais para
usar de marcador de página.
tempo, me leva logo.
acaba com as angústias
livra-me das sombras e
das mazelas de si mesmo.
braqueia os fios de cabelo
do meu amor, sem rancor, sem dor.
me leva pro alto,
bem acima dos mortais
e do piche quente do asfalto.



Meu, para o mundo.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Sua Insustentável Reclusão | Minhas Agitadas Sinapses

percebi-me parado.
pulso firme, dedos sobre as teclas.
a onda cerebral assume um formato
novo, de névoa. modulada pelos vãos
de sangue. bombeado diretamente
do coração da alma.
falta pouco pra voltar ao normal.
sinal? ocupado. falta a linha
ótica que conduz a voz até a
outra ilha.
borbulha a areia sob meus pés.
a calmaria das ondas revela-se
encantadora. dona de si,
como poucos que conheci.
fluorescente branco do luar,
tingindo os fios de cabelo
da mulher ao meu lado.
reclusa em sua carapaça
de ostracismo, resoluta.
água em nossas canelas.
as estações completam o ciclo
e ela continua aqui. em pé,
sem chão.



Meu, para o mundo.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

+ ou -

sentir menos
sentir-se mais.
menos dor,
menos sofrimento,
menos raiva,
menos injúrias,
menos reclamações,
menos traumas,
menos. sentir com o
sentir reduzido.
sentir mais.
mais alegria,
mais lágrimas de felicidade,
mais abraços,
mais risadas,
mais toques,
mais poças d'água com pés descalços,
mais vivo.
sentir-lhe mais.
mas ao mas, sentir menos.
mas. mais. menos.
mais sentir. menos servir.



Meu, para sentir mais.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pelo Futuro

Pelos dias caminhados,
Eu agradeço.
Pelas noites acordado,
Eu dou risada.
Pelos esporros levados,
Eu peço outros.
Pelas brigas amorosas,
Eu peço desculpas.
Pelos gritos e xingos,
Eu me orgulho.
Pelos apertos de mão dados,
Eu me conheci.
Pelos lágrimas escorridas,
Eu me compadeço.
Pelos obstáculos que ainda virão,
Eu me fortaleço.
Pelo futuro,
Eu anseio.



Meu, para o futuro.

Medindo Esforços

Faça do fim do dia a linha
Teça cada palavra
Todo gesto que impulsione
Um novo começo.
Cada verso transforme uma vida
A prosa rítmica do pensamento
Que vai e vem.
Na marola das ondas
No passar das estações
Na junção dos universos,
Incertos e desconhecidos.
Carregue no peito
Sua tribo
Lute por uma causa nobre
Sem esnobar
Ou repudiar o
Cair da noite.



Meu, para o mundo

5:23 a.m.

Gigante emocional permitido
Ecoa pelas letras em naquim
Grita enquanto o bico é
Molhado em lágrimas
De sol, do nascer da lua
Todo teu, você, sempre
Distante de ser qualquer uma
Mais alguém na vida
Descarregada no meio fio
Das feridas sentimentais
Portal das torres cintilantes
Milimetricamente díspares
ímpares a ponto do fracasso
Iminente, preterido da vida dupla
Imponente no pôr do sol alaranjado
Fatalidade do horizonte mínimo
ínfame das horas vagas,
Eternamente constantes durante
Antes e posteriormente
Tocante nas folhas sagradas
Do coração remendado
Traga o sossego dos dias chuvosos
E.o agito da relva na tempestade.



Meu, para a madrugada.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Teu Fim Chegou

se caminhar fosse fácil
tu não estarias aí jogada,
sujando-se na água da sarjeta.
vestindo trapos coloridos,
estampas psicodélicas
da sua época juvenil.
suas atitudes vis,
seu comportamento egoísta,
subjulgando tudo pela frente
e todos que passam pela
sua órbita ocular.
o princípio do estado
vegetativo, gradativamente,
consome suas lembranças,
dilacera seus sentimentos
e nubla teu coração
outrora puro.
prepare a cama de rosas
brancas, com perfume plácido.
o coletor veio cobrar
tua divida, já carimbada
e reconhecida no cartório
das almas.



Meu, para o mundo.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Navalha da Vida

sentado na sarjeta estava
ele, lá, chorando
calado pelos passos dos que andavam.
todos rindo, pulando,
o festival das máscaras de Kabuki
demônios dançando sob a garoa
gelada e fina.
gota d'água cristalina corrente,
firme e quente na face,
rolando pescoço abaixo
até espatifar-se no meio fio
da vida.



Meu, para o mundo.