terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Intitulável
arte na pele
risos no ar
imã de loucura
asas sem voar
feridas expostas
esperanças impostas
restos de vida
nada contra a correnteza
amor incalculável
natureza irrefreável
delicadeza na flor
ardor nos espinhos
mestre dos disfarces
orfão do acaso
liberdade em cheque
esposa do espaço
restos do começo
outrora esmaecida
languidez dos fios
olhos em brasa
verdades livres
erros passantes
retornos estranhos
respostas inesperadas
águas de dúvida
Meu, para o mundo.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Faltam as Palavras
faltam por serem apenas palavras e pelo significado incrustado nelas seja meramente insignificante a ponto de poder ser usado para determinar um instante, para exprimir um sentimento, uma vontade, um desejo. Uma ânsia. Aquela de viver. não alucinado. não. aquela de buscar o que crê ser possível conquistar. aquela ânsia que dá borboletas no estômago e desperta a faceta ambiciosa adormecida dentro de cada um de nós.
as palavras faltam quando mais são necessárias.
faltam naquele momento que você precisa laurear alguém, consolar um amigo por uma perda grave, que vai transformar a vida dele, sendo que o caminho da perda é cumprido e demora a sua regeneração. faltam as palavras naqueles momentos de felicidade, de êxtase. falta a palavra que dá vida ao grito guardado e acorrentado no mais profundo canto da alma. faltam as palavras para dizer o quanto certa pessoa é importante, inclusive, este momento, mesmo que se tenha as palavras que achas certas, o medo e a incerteza da receptividade calam as palavras, sem saber se aquele momento seria o único para tal intenção.
faltam as palavras em muitos momentos.
quando pensa-se que o xingamento é a única forma de expressão válida. quando passa-se por uma situação de stress que culmina em ira, depois de ter aguentado afrontamentos, apontadas de dedo, humilhação e ser taxado de algo que de fato não o é.
faltam as palavras cada vez mais.
para divulgar as verdades que as pessoas têm medo de dizer. para calar os opressores e denunciar os corruptos.
faltam as palavras certas para os momentos oportunos.
para valorizar os seus direitos e lutar pelos direitos de quem precisa de apoio, de um braço amigo e de um ombro irmão.
faltam as palavras para defender os ideais.
ideais que outros deram suas vidas para defender e que hoje são esquecidos pelo comodismo, pela facilitude com que a vida proporciona as regalias, entrega as dificuldades prontas e de mão beijada, exigindo pouco do potencial de cada um, pouco do que realmente dignificaria o homem.
faltam as palavras de ordem e progresso.
estampadas na bandeira de um país que tem tudo para ser o futuro, para ser uma potência, e é visto a olhos estrangeiros como um país de terceiro mundo, sub desenvolvido e subserviente, por mais que um gorducho rechonchudo vá na TV e dê mãos e sorrisos para presidentes, coordenadores, conselheiros e o escambau a quatro.
faltam as palavras.
e sempre faltarão.
Meu, para o mundo.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Falta-se Parecer
parece faltar intimidade.
parece faltar generosidade.
parece faltar. e faltar cada vez mais.
falta-se cada dia mais.
falta-se às escolas.
falta-se às casas. aos apartamentos.
falta-se. fere-se.
fere-se as pessoas.
fere-se os animais.
fere-se as plantas. silêncio.
falta-se silêncio na selva.
falta-se e fere-se na selva, sempre.
selva-se na cidade, fere-se nas casas.
silêncio na falta.
parece que falta sempre.
Meu, para o mundo.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Frágil Tempo Veloz
Meu, para o mundo.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Não Custa
liberdade que muitos sonham, todos querem e quase nenhum tem. a vida leve, altiva e sincera de um nômade notívago, dormindo nos bancos dos parques da vida, levantando com sustos de guardas e pessoas aleatórias. banhando-se nas fontes públicas de águas límpidas e potáveis.
persistir por um amanhã pleno, entalhado na madeira mais nobre, da casa mais alta, do pico mais afastado, na montanha mais gelada, do continente mais remoto, de uma vida que não chegou ainda a existir.
liberdade do futuro desprendido de responsabilidades e de amores infinitos sob o manto azul do mar.
Meu, para o mundo.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Tanto que Sinto
mãos dadas, escoradas pelo gramado
sorrisos abertos,
escancarados às luzes da ribalta,
incandescentes, indecentes,
tremeluzentes,
palpitações intermitentes,
braços arrepiados,
pálidos de amor,
captados pelas lentes claras
apoiando-se em situações raras.
continuados, mesmo separados.
calados, lado a lado,
simplesmente sentados.
conjugados, dedos inter-calados.
meus olhos inebriados.
seu sorriso espalhafatoso,
amável, sinuoso.
amoroso.
Meu, para o mundo.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Na Garrafa
boiando nas enconstas do Atlântico,
viajando e voltando dos recantos longínquos dos sete mares,
a espera contínua pelo seio terrestre,
o anseio das vozes ao pé do ouvido.
duas mãos agarram-na fortemente,
um som abafado anuncia a violação do lacre.
batidas abafadas pela quebra das ondas,
grãos espalham-se ainda mais sob os pés,
uma folha é desenrolada,
um abraço apertado
a distância irrelevante
aproxima ainda mais.
os olhos passam rapidamente pela folha
“Saudade.”
olhar marejado,
recado dado.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Aquele Vestido
uma garrafa em mãos,
semi quente, metade vazia,
verde reluzente.
combinava com uma listra do seu vestido.
“cubista”, pensei. fã de Picasso,
me indaguei.
quase falei.
mas hesitei.
petrificado pela visão,
perdido em sensações
suor nas mãos,
outra vez aquela antiga palpitação.
foi apenas um sopro.
aquele susto momentâneo,
quando os pulmões inflam.
ar rarefeito adentra,
nada sai.
Meu, para o mundo.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Novo, de Novo.
mais um ponto de partida.
mais um retrocesso.
mais uma perdida pelo caminho.
mais uma indefinida.
mais uma largada na contramão da vida.
mais uma vez.
sempre outra vez.
repete-se a vez,
e a vez repete-se.
de novo. e de novo.
em busca, sempre,
de mais um novo.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
#200
sentava e sentia, me permitia.
fazia alguns dias que não a via,
radiante, ofuscante, bela.
nos meus olhos, ardia.
adia o peito estufado,
a lufada de ar engasgada,
o sopro encantado, o braço encostado,
coração escorado. de canto, ao relento.
me permitia sentir tudo novamente,
outra vez, mais pulsante, medroso e transpirante.
dominical circunstância. discrepância de épocas.
sensações e sentimentos passados, à tona
empregados.
pretérito perfeito do futuro presente.
latente. doente.
em mente ausente.
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
#7
Meu, para o mundo.
domingo, 29 de agosto de 2010
Passado à porta
ela toma conta de todos eles.
ela novamente, ela, a nova.
em si, renovada.
pensamentos convergentes,
incessantes, levemente assustados.
análise do passado em pleno presente
passado este recente,
a tona, mais uma vez.
sentes.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Não Está nos Livros
sem direita nem esquerda.
bom dia pra sorrir,
olhar nos olhos,a
palavras belas e fugir.
belo dia para começar de novo,
lembrar-se que foi, passou.
limpar e continuar.
bom dia para chorar,
sem tristezas, medos.
espantar as dúvidas.
levantar.
Meu, para o mundo.
domingo, 22 de agosto de 2010
Nota Mental
sábado, 14 de agosto de 2010
Pilha de Fotos
A pilha desmorona aos poucos. As cores ficam turvas, fundem-se, viram um pastel-azulado-com-toques-alaranjados. Os pés tocam os cabelos, as mãos mesclam-se com a cintura-violão da loira, os olhos agora são o nariz de cada um, solto no espaço. Seguiu-se o trajeto. As histórias sem envolvem, evoluem, dissolvem como tinta na água, homogêneas como água com açúcar. Restaram as alianças soltas. Sem dedos para formar um par. Um casal entregue ao sucesso, rumando de encontro ao fracasso de um amor etéreo. Fim antes de ter saído do papel. Ficaram as lentes de contato expostas tempo demais, ou ambos cegaram-se com tanto sentimento? O futuro chegou cedo demais, ou eles envelheceram e desenvolveram tantas manias insuportáveis que o presente virou passado?
Metade da rota de colisão com o tapete encardido embaixo da mesa de centro. Algumas fotos são paradas pelo tampo de vidro da mesa. O peso delas trinca o vidro. Encobrem os livros, as folhas com textos velhos manchados de café. Derrubam latas de energético vazias, tombam amores, estraçalham horrores e temores. Ficam marcadas de cinzas de cigarro. Acendem charutos, servem de combustível pra lareira do coração. Cada pedaço de papel com tinta marcada gerou um registro indelével, indefectível. Doloroso. Agora, dolorido. Restou a marca, o crivo da verdade nua e crua no coração pulsante.
Colisão completa. Resultado da batida: 1 coração quebrado. 1 mente perturbada. 12.403 fotos derramdas, como vinho, sobre o tapete encardido.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Caindo
Profundo,
Mundo guardado a espera
Do amanhã, do domingo.
O sol varando a janela,
O controle na mão,
Canal. Sorriso,
Abraço e mãos,
Coração em coração
Lábios selados,
Juntados, amados.
A mesma marca,
Dedos iguais em extensões distintas,
Conectados, separados pelo físico,
Unidos em astrológico.
Olhar profundo,
Passagem para um novo mundo.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
para recomeçar
rabiscados, amassados,
gostas d’água espalhadas.
a caneta com meio carga
e tampa mastigada até o osso,
recolhi meus cabos digitais
e arquivos físicos.
empacotei os documentos
em pastas de madeira,
envelopei as máscaras,
aquelas que vestia diariamente.
abri a porta de saída,
olhei pra trás.
a última observada sincera,
o último sorriso honesto.
o chaveiro tilintava no meu bolso.
irônico. a menor chave
era a mais pesada.
destarrachei-a da argola,
coloquei no pote.
bati a porta atrás de mim.
fui ser feliz.
respirar.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Imperceptível
fina, de linho. fio do frio,
no horizonte sem fim
distante da boca,
contíguo ao sim de lá.
teceu a metástase,
ordenou o ataque
raso transmutado em coronel,
chefe do rebanho,
matilha do bordel,
cabeça a prêmio,
desleal infiel,
degolado no paço
cabos no percalço,
seu torniquete frouxo,
sem fita para laço.
fim da linha rósea,
enrubecida faixa em meio fio,
encharcado de água,
lágrimas do céus,
- não! é o começo da minha,
fim da sina,
meio da raposa,
da rapina.
corta-se a linha fina.
Meu, para o mundo.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
A Caminho da Sessão
Partia de um lado para o outro da casa, lotada de roupas, lotadas de brinquedos, de toys, de espaço livre para muito mais coisas que iria comprar. “Consumismo consumindo o consumo do consumista”, disse ele para si mesmo, enquanto escrevia tais dizeres na parede ao lado da porta de entrada, que dava de frente para o balcão da cozinha. Sua estante de livros, arqueada, evidenciava que um reforço em questão de semanas seria necessário para prevenir um desastre iminente. O post-it na geladeira jazia com a anotação: Comprar parafusos, ou o que quer que seja o nome do material que dê reforço à estante. Abriu a geladeira, serviu-se do suco de laranja, que obviamente já estava no final da caixa, obrigando-o a tomar apenas metade da metade de um copo, o que lembrou-o de outro problema: o estoque de comida estava chegando ao final, teria que sair para comprar comida, suco, frios e mais algumas coisas que encontrasse no mercado. TInha parado de beber, então seu custo mensal de alimentação e bebidas tinha descrescido consideravelmente, além do seu físico ter melhorado significativamente. Fechou a porta da geladeira, não antes de pegar um pedaço de queijo e um de presunto e fazer um rolinho para comer. A porta bateu enquanto batiam na outra porta. “Vai, cara. Levanta essa bunda do sofá.” “Merda, sempre esqueço de arrumar a campainha. Já vai.” Antes de atender, escreveu em outro post-it, que afixou na borda da TV: “Consertar campainha.” “E aí, como que tá? Tá pronto?” “Tranquilo, meu querido. Pronto pra quê?” “O cinema. Esqueceu? É daqui 30 minutos.” “Me dá 5 que já saímos.” “Merda. Ok.” Nunca tomou um banho tão rápido em toda sua vida. Em menos de 5 já estava fora do banho, e em questão de mais 1 minuto acrescido ao timer estava pronto, fechando a porta do apartamento. Sua mão esgueirou-se pra puxar a chave geral que desligava todas as luzes, deixando apenas a geladeira em funcionamento. Dica do seu chefe. “Sábio”, pensou novamente consigo mesmo.
Descendo as escadas do 2º até o térreo, seu telefone tocou.
“Namorada” dizia o display. Toque do celular: The Album Leaf / Always For You
“Oi. Tudo bem?”
Meu, para o mundo.
sábado, 31 de julho de 2010
ancorador de auras
o relógio menos irritante,
a mente, sempre incessante.
começa-se pelo fim do dia,
termina-se no meio da noite,
vê-se perto o distante.
brilhante.
cada passo em frente
uma alma deixada na sola,
solta pelo corredor de luzes,
envoltas em plástico bolha,
simples pra não machucar.
passo apertado,
ritmo surdo, assimétrico.
perdido.
porto seguro alfa.
hangar beta.
ômega.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Fardo Diário
Seus insultos.
Contramão.
Longe dos fatos,
Distante de atos
Perto da porta da rua.
Fora do eixo.
Olhe ao seu lado,
Os poucos que restam,
Te detestam, agouram-te.
Reflita ao abrir os olhos.
Enxergue-se além,
Não seja aquém.
Distante dos atos,
Você é um fardo.
Fato.
terça-feira, 27 de julho de 2010
Claro a Dentro
Sono perdido.
Mais uma noite em claro
Fones no ouvido.
Lentidão rítmica dos pensamentos.
Intransigentes. Exigentes.
Initeligíveis. (Ininteligentes).
Cansado do presente passado,
Sentado, espera a recusa.
Mais cem anos aprisionado
no corpo do malfeitor alado.
Duzentas noites perdidas
para as madrugadas claras.
Meu, para o mundo.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Anciões e Sábios
A displicência.
A diferença.
A resiliência.
A transferência.
A impaciência.
A esperança.
A paciência.
A indiferença.
A ciência.
A justiça.
A sapiência.
A essência.
Meu, para o mundo.
terça-feira, 13 de julho de 2010
Lápis na Folha
Finas, elegantes, silhuetas do caderno.
Belas letras, traços ligeiros,
Respingos de tinta.
Tinteiro melado,
Transbordando ideias e sentimentos.
Sentimentos traçados,
I’s devidamente pingados.
Prévia do final da história,
Começo da relação,
Meio da emoção.
domingo, 4 de julho de 2010
Oferta Desfeita
Oferenda feita, retida.
Nada de clemência ao pecador.
Resta-lhe a dor, o ardor.
Nada passa de temor.
Sua veia de ator, seu lado encantador
Deflagrado pelo recanto.
Sem mais jardins,
Finito de lírios, sopros e alívios.
Tradicional ímpeto furioso.
Assombro da perdição,
Causador maléfico dos sonhos.
Chora pelo amanhã preterido,
Ajoelhe-se perante o presente fundido.
Forjando seu anel de prata,
Liga da matéria mais lasciva.
Coração envenenado pela beleza,
Louros nocivos ao Ego,
Aprazíveis ao ID,
Abandonados pelo Super.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Por quê, Nação?
Brilho da fauna patriota,
Sinal de vida inteligente,
Vida sinalizante, recorrente,
Bela e traumatizada.
Mescla de losângo amarelo,
Inteiro, vasto em dimensão,
Pequeno para tanta terra.
Liberdade e progresso na faixa azul,
Símbolo de esperança e ordem.
Imerso em desordem,
Cúmplice dos temerários engravatados,
Aliado dos grandes corruptos.
Brilha apenas Uma.
Ofuscam as outras Vinte e Seis.
Pátria amada, idolatrada,
Decadente. Levemente senil.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Chegou a Vez Mais Uma Vez
Chegou a vez dos pulmões respirarem leves novamente. Lufados e estufados pelo ar puro das planícies selvagens, habitadas por animais campestres regozijantes em tamanha relva recém-descoberta por aqueles pulmões virgens. Ao fundo, ouvem-se as quedas da cachoeira que sua alma há tanto sonhava em reencontrar. Perímetro inviolável da natureza, agora violado pela felicidade de seus aovéolos e brônquios.
Chegou a vez dos olhos marejarem de felicidade novamente. Felicidade por ter encontrado outrém em mesma situação. Felicidade por ter seu espírito tranquilizado e afagado por braços firmes e por um coração amolecido esplendoroso. Demorou tempo suficiente para seu corpo tomar sua forma antiga e preparar o terreno da alma e estar receptivo às influências externas mais uma vez. Os olhos agora têm outra menina. As íris detectam cores há muito apagadas, e há pouco re-descobertas. A retina brilha, cintilante, como a primeira estrela a dar o ar da graça no céu quando a noite nasce, avivando a claridade no coração dos apaixonados. A luz da Lua é ofuscada por estes olhos novos, vívidos. Altivos. Agora, reativos.
Chegou a vez das mãos transpirarem novamente. Ansiedade à flor da pele. As transpiração atrapalha no digitar, mas empolga, por saber que muito mais dela vem aí. E junto, aquele palpitar desenfreado, quase taquicardiáco. Junto a ela, vem muito mais, vem o frio na barriga, o medo de pisar em falso, o medo de errar, dizer alguma palavra que vire o rosto, que quebre o encanto. Comedido. A transpiração comedida sem medida, feita sob medida para este novo momento.
Chegou a vez de ser o da vez novamente. O da vez para alguém especial, aquele alguém que precisava justamente deste outro apagado. A vez de sorrir com o raiar do sol, de madrugar por aí, sem rumo, deixando para trás qualquer documento que lhe prenda ao passado. A vez de novos escritos, de novas frases, inventadas, nunca reutilizadas. A vez de ser completo. O quebra-cabeça finalizado, preparado para ser pendurado na parede, não como prêmio, mas como obra. Arte em seu primor. Apenas.
Chegou a vez mais uma vez.
Meu, para o mundo.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Abrir. Fechar.
Abriu a janela para o sol,
Abriu a cortina para o domingo,
Abriu o coração e deu abrigo.
Fechou a cortina para a lua,
Fechou a janela para rebater o frio,
Apagou as luzes para sonhar
Cerrou os olhos para amar.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Frame por Frame
Assim que saía da cama desligava o iPod que tinha passado as últimas 2 horas tocando incessantemente. Coçou o cabelo como faz rotineiramente, entrou no banheiro, trancou a porta, jogou uma água no rosto. Ligou o chuveiro e deixou-o esquentar enquanto se despia.
TOC. Transtorno obssessivo compulsivo. Tinha esse mal também. Fazia as mesmas coisas durante o banho. Lavava a axila esquerda e depois a direita. Descia para as pernas, subia para o pescoço, descia para a pélvis. O cabelo era a última parte a ser ensaboada, não com sabonete, obviamente.
Saía do box depois de 10 minutos, aproximadamente, enxugava-se, tirava a escova de dentes do pote, passava a pasta de dente e começa a rotina da escovação. Esquerda, direita, em cima, embaixo, no fundo, os da frente. Bochechava duas vezes, enxugava os lábios e depois sorvia um belo gole de antiséptico bucal. Gargarejava por uns 2 minutos, conforme instruções na embalagem, seus olhos sempre lacrimejavam por causa do álcool na composição. Enxugava os olhos com os dedos indicadores, cuspia o líquido na pia, abria a torneira para limpar o que havia sobrado e saí do banheiro. Apagava a luz.
Ficava uns 2 minutos olhando para o seu armário sem portas, com todas as roupas expostas e alinhadas, como um pelotão do exército esperando a ordem do capitão sobre o passa a seguir.
Cuecas na segunda gaveta. Meias na primeira. Pertences aleatórios e bugigangas na terceira. Na quarta, ele guardava o seu passado. Cuecas pretas, apenas. Prefere assim. E em toda viagem de ano novo, tinha que comprar uma cueca branca para passar a transição do ano. Sempre a mesma ladainha, mas respeitava o significado. Preto tem sido sua cor favorita nos últimos tempos. Até no sol, ele sai de preto. Camiseta. E se arrepende assim que o sol bate no seu braço pendurado para fora do carro, em cima da manga preta. Ovo. Resume bem o que ele sente no momento, o calor a cor retém é passível de se fritar um ovo. Gema mole talvez, para molhar o pão francês.
Mal humorado pela manhã, evita manter diálogo com seus colegas de trabalho até o almoço. Sempre sai de casa sem tomar café. No máximo abre uma lata de Red Bull e vai tomando no carro. Os 2 últimos anos, elas, as latas, têm sido suas fiéis companheiras. Jogadas pelo carro, espalhadas por todos os cômodos do apartamento, mas, em demasia, empilhadas na parede de seu quarto. Se bobear até no banheiro deve ter uma. Mas não lembra com exatidão neste momento.
O dia passa devagar. E mais a cada dia, insatisfação pessoal. Quer dar uma reviravolta em sua vida, quebras os padrões, deixar os sentimentos e as ideias realmente fluirem. Não quer dar satisfação para sua namorada, nem para ninguém. As ligações às vezes são infinitas em sua percepção. Bastam 2 minutos: “Oi, tudo bem?” “Tudo e com você?” “Tranquilo.” “Saudade. Não te vejo desde sábado. Já é quinta. Vem me ver?” “Claro. Assim que sair, te dou um toque. Te amo.” “Eu também te amo.” “Beijos, linda.” Suspiros. O celular em sua mão fica mudo. Essa é a ligação perfeita. Sem enrolação, breve, porém sincera. Verdadeira. Amável.
Volta para a lente da câmera. Fotos e mais fotos. Descarregava o memory stick no computador. Selecionar as fotos é a parte mais gratificante, consegue avaliar o que fez de errado em cada foto, onde acertou na iluminação, onde pode melhorar quando for fazer o tratamento. Duas horas para concluir a transferência. “Foto pra caralho!”, pensa ele enquanto abre o iTunes.
Sua playlist é ridiculamente gigante, mas acaba sempre escutando as mesmas bandas, e as mesmas músicas das mesmas bandas. Cumpre todo o alfabeto, mas não ouve nem metade das letras. Tem preferência pela P, M, S, L. Cochila na cadeira. Começa a viajar, seu pensamento vai longe, entra em alpha, quando menos não vê, tá sonhando. Seus pés andam sobre a água do Lago do Ibirapuera. “Não é possível. Nem cristão eu sou. Como que posso estar aqui? Assim?” Registra o momento com uma foto, sua câmera sempre em posição e pronta para o disparo. Uma rajada de cliques. “Consigo montar uma panorâmica, se bobear.”
Susto. Estrondo. Cadeira no chão. Ele acorda desesperado. Respiração ofegante. Demora até cair em si de que seu celular está tocando. Ele começa a sambar sobre a mesa, enquanto a música embala, ritmicamente, o trepidar do aparelho no tampão de vidro.
(Display do celular - .... Namorada)
“Oi, amor”.
Meu, para o mundo.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Colcha de Retalhos
Seus olhos não passam de fotografias já desbotadas na minha mente imemorial. Seu sorriso ficou amarelo, como um aro de bicicleta que com o passar dos anos e a ação do tempo cria a ferrugem e desgasta o que antes era belo e cintilante.
Seus cabelos agora estão mais compridos, talvez mais louros, não sei.
A última vez que te vi, continuava bela, como sempre fostes, desde o nosso primeiro encontro no jardim botânico, rodeado por tantas flores, tanto verde, tanta pureza no ar. Nada tirava-me a atenção. Só parecia existir você dentro daquele parque amazônico, onde tudo fundia-se em completa harmonia. O farfalhar de cada folha daquele recinto soava como a mais maravilhosa orquestra sinfônica. Cada brisa que tocava meu rosto era um novo sopro de vida, que enchia de alegria meus pulmões já prejudicados pela minha vida de excessos.
Tem muito tempo que isso aconteceu. Hoje já não somos mais aquelas mesmas pessoas felizes e que compreendiam o que se passava na vida de ambas. Não somos mais aquele casal contente, que inspirava os outros a ser como nós. Não somos mais uma só pessoa, uma entidade contígua. Hoje, somos eu e você, separados pela ação do tempo e por acasos não feitos ao acaso. Hoje, queria que fosse o ano que vem, para que a velocidade com que o espaço-tempo passaria apagasse de minha memória teimosa a sua imagem, seus sorrisos, seus abraços, seus beijos e acalentos, suas palavras doces sussurradas ao pé do meu ouvido durante noites calorosas.
As juras de amor desfizeram-se perante os anos que se passaram. Seus gestos mostram uma faceta sua antes desconhecida pela minha visão, pelo meu coração. O que os olhos não veem o coração continua a sentir da mesma maneira. Ditos populares não servem de apoio ao que eu tenho passado, e nem são as palavras do mais chegados que vão fazer com o que os pedaços de vidro quebrados dentro de mim sejam colados, ou sequer recolhidos.
Existe muito aqui que ainda precisa ser dito, ou ao menos mostrado pra você. Não sei por onde começar, e nem como fazer você ver.
É complicado aprender a caminhar com as próprias pernas.
Dias a fio roguei por você, indaguei o porquê das coisas terem transcorrido como transcorreram, e sei que no final, quem causou tudo o estardalhaço é aquele que hoje sente em suas entranhas o cravar das lâminas afiadas da solidão.
Superar não tem sido fácil, nem tem sido agradável. Tem mostrado-se cada vez mais difícil, em um mundo frio e cada dia mais gélido com o chegar do inverno, aquecer o corpo é a tarefa mais simples, acenda uma lareira ou acolha-se embaixo de um edredon ou cobertor, agasalhe-se e o calor se encarrega de fazer sua função, de prevenir doenças, impedir a queda térmica do corpo. O problema é aquecer a alma, avivar o coração, manter acesa a chama que um dia apagou-se pelas atitudes drásticas e imaturas tomadas pelo lado infantiil da relação amorosa. Isso nem o tempo, nem as pessoas, nem nobres palavras e gestos aventureiros curam. Nada cura.
CIcatrizes são feitas para serem lembradas, para demonstrar que somos frágeis, e que sim, nossas atitudes têm consequências.
Cicatrizes caminham lado a lado, expostas ou já contidas.
Sou feito de cicatrizes, físicas e emocionais. E sei que muitas outras ainda virão. A colcha de retalhos ainda não está completa, faltam muitos pedaços a serem remendados até que a obra possa ser vista como prima.
Qual será a próxima?
Mais uma física?
Ou uma emocional para dar continuidade ao ciclo?
Quando surgir o momento, a escolha será minha. E certamente eu tomarei a decisão que fará meu espírito crescer ainda mais.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Diariamente
Julgada pelo mesmo ponto de vista
Diariamente, pelos últimos 9 meses
A tinta descasca
O video embassa e trinca
O concreto desgasta,
Transforma-se em pó.
Colisões no tráfego
Sinais verdes queimados
Vagabundos empilhados
Sofrimento enfadonho.
Uma tela de Monet cinzenta
Vida morta, alma singela.
Espectros efêmeros.
A perspectiva cansa
Perde o brilho e esmorece.
Os olhos continuam. Readaptam-se.
Merecem outra paisagem.
Mas quando?
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Tem Muito Aqui Dentro
Às vezes seria melhor mesmo pegar minha bagagem e cair fora daqui, sem rumo, sem destino, sem lenço e deixar os documentos em algum canto. Espero que alguém os rasgue, não precisarei deles de qualquer maneira. Não quero ser conhecido, quero misturar-me a plateia de palhaços divergentes que não sabem o que pensar.
Fantoches de suas próprias vidas tediosas. Chega. Quero sair. Para o trem, para o mundo, gire o mundo ao contrário, quem sabe assim as coisas melhorem e passe a existir algum sentido, que há muito está incubado em cada um de nós.
Nada de amores. Sem dores, sofrimento, decepções. Ah, frustrações? O que é frustração? Nunca tive contato com essas palavras, quisá com o sentimento que ela desperta em mim ou em outrém.
A banda deveria tocar assim. Sem regras. De acordo com o que cada um precisa, de acordo com o que cada um quer, na ritmica que quiser, sem letras, sem maestro ou regente, sem limites. Limites restringem, emburrecem, estristecem, enfim, limitam.
Pare de pensar por um instante e me diga, realmente, você é feliz? Ou você vive em função do que acha que é a felicidade? Você faz o que quer? Ou faz aquilo que foi programado a fazer? Você sorri para quem quer? Ou sorri para manter as aparências e se integrar ao coletivo? Você acha mesmo que eu dou a mínima para você? Pare e pense. Pense. Reflita mais um pouco e depois volte a falar comigo.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Dislexia Textual
“a janela estava aberta, o cursor piscava initerruptamente durante a conversa telefônica que perdurou por horas. Outra janela piscava minimizada, laranja pulsante. Maximizada, a imagem da câmera mostrava uma bandeira com um Sagrado Coração de Jesus estampado em silk.”
“ao tentar atravessar a rua, pisou na faixa recém-pintada com cal, sujou a sola de seu tênis recém-comprado e voltou para sua casa, recém-reformada.”
“de tudo o que foi dito, suspiros, somente, foram processados.”
sábado, 24 de abril de 2010
Vinte e Quatro de Abril de Dois Mil e Dez
O tempo passou mais rápido do que pudesse sentir. As horas, algumas foram eternamente longas, já outras passaram fugazes como um trem bala, ou melhor, como uma bala.
O tempo. Mesmo com estes Noventa e Seis Dias nas costas e na mente todos os dias, parece que faz completou muito menos. Cada mês para uma semana, e cada semana para um dia.
E quando esse sentimento sobressai, o dia demora a concluir-se. Os pensamentos ficam soltos pelo ar, desatam-se os nós dos neurônios e quem diz que as sinapses podem fazer algum sentido? Ou que elas são geradas de alguma maneira?
O tempo escorre por entre os dedos. E entre os dedos não existe mais nada. Só restou um coração danificado que agora não vê propósito em bater, a não ser pelo simples mérito de manter o corpo de seu dono em pé.
Talvez o tempo venha a ajudar de alguma maneira, àquela que ainda não surgiu e está ansiosa por mostrar sua face e acolher os tormentos e anseios do rapaz que não vê objetivo em ter uma vida.
De tempos em tempos, ele se deixa levar pelo tempo, faz pouco caso desse fiel amigo que nunca te abandonou, mesmo nas horas mais sombrias e angustiantes de sua não-tão-grande-vida.
Duas Mil Trezentas e Quatro Horas. Isso é tempo demais para viver aprisionado em um casúlo, mas talvez seja o necessário para que a lagarta transforme-se na mais bela borboleta já vista. Talvez seja o período de amadurecimento que ele precisa ter para, enfim, encarar o mundo novamente, de peito aberto, olhos atentos e cabeça em riste.
Mas de uma coisa ele é certo: de cada um desses Cento e Trinta e Oito Mil Duzentos e Quarenta Minutos, ele sentiu falta dela em cada um deles.
Meu, para o mundo.
terça-feira, 13 de abril de 2010
Resiliência do Coração
Me sinto distante, ao tempo em que meu cérebro e corpo tornam-se resilientes.
Inabalával.
Não me sinto eu. Sou apenas o reflexo de algo que quero ser, um amálgama de uma alma que já tinha com a que está nos meandros do agora.
Inevitabilidade.
Transmutação constante.
As flores na derme compravam essa transformação.
Recente. Em pausa.
E nada distante.
domingo, 11 de abril de 2010
A Lua Nunca É Maior que o Polegar
sexta-feira, 26 de março de 2010
Quase 22 Meses
Vi nós dois no jardim, eu abraçando você, com o queixo encostado no seu ombro. Na sua mão a sempre presente xícara de café matinal e um pires com bolachas de água e sal. Beijei seu rosto delicadamente, seus lábios se fecharam e um vasto sorriso tomou conta de seu semblante.
Alegria. Era esse o sentimento que apossou-se do meu corpo naquele exato instante. Você colocou a xícara estrategicamente na mesa que tínhamos acabado de comprar, virou-se para mim e beijou longamente. Afastei um pouco seu rosto do meu, para admirar você como sempre faço todos os dias ao acordar.
Adoro ver você dormindo. Seu rosto afundado no travesseiro, com o edredon puxado até o pescoço, deixando aparente apenas os cabelos com as mechas californianas mais atraentes do mundo.
Tem um fio na frente dos seus olhos que eu ajeito para trás da orelha, aproximo meu rosto do seu, toco sua bochecha com meu nariz, seu lábio se expande, delineando um sorriso, aquele no qual você não deixa os dentes aparecerem, tão lindo quanto o outro, tão cativante quanto todos que você já deu para mim. Sussurro algo no seu ouvido, a resposta é praticamente automática. Me despeço com um beijo e vou para a sala.
Abro o computador, começo a degladear com os teclas. O prazo está esgotando e nem 10 páginas do livro eu tenho. Preciso correr contra o tempo. Você surge na porta, como sempre fazia na casa dos seus pais. Deseja bom dia, a xícara de café quente sempre em mãos, independente do horário. É rito, pode ser às 12h, às 13h, às 14h, o dia só começa depois que você toma o seu café.
(Me pergunto se hoje em dia continua sendo assim.)
Você se senta ao meu lado, tenta bistolhotar o que estou escrevendo mas digo que só mostrarei depois de pronto. Surge o biquinho. Ah!, o biquinho. Mas ele logo passa. Sei que é só charme, e você sabe que assim que estiver terminado, nem que seja o primeiro capítulo, eu irei permitir que leia.
O botão do controle é pressionado, você seleciona o mesmo canal de sempre. São 13h. Friends está passando. Você olha pra mim, dá uma risadinha, eu retribuo com um sorriso e nos beijamos.”
Todos os finais de semana têm sido assim desde que nos conhecemos.
Agora, cada um acorda em sua casa, eu na minha cama, não mais no colchão na sua sala. Você não tem o cabelo ajeitado e nem dá aquele sorriso quando sente minha mão percorrendo sua face. Não recebe o beijo na bochecha nem o afago do nariz.
Eu acordo no meu quarto, já pensando em você, e no que fazer para preencher mais um final de semana em que não vou deixar você no teatro e rumar sentido ao shopping para passar o tempo e esperar a hora de ir te buscar.
O tempo demora a passar. As saídas continuam sendo boas, mas não tanto quanto seriam se estivesse ao seu lado, aproveitando o ponteiro do relógio passar junto a você.
Nossas mãos dadas, os dedos devidamente entrelaçados, cada um já sabendo a qual lugar pertence na disposição. O braço circundado na cintura, trazendo você mais perto de mim, encaixando-te embaixo da minha “asa”, te protegendo do mal do mundo e das malezas humanas.
A minha favorita segue sozinha, agora. Cresceu, criou asas e está migrando para outros lugares, conhecendo novas pessoas, vivendo novas experiências. Orgulho. Independentemente do que suceder, é o que sinto. Orgulho e amor. Incondicionais.
São poucas as pessoas que queremos carregar para sempre nesta vida. Ando preferindo a qualidade à quantidade. Poucos e bons à muitos e ruins. Sempre pensei assim, mas o passar dos anos aflora ainda mais esse pensamento.
Agora, chamar uma mulher de “a mulher da minha vida”, isso é para muito poucos.
Meu, para o mundo.
sexta-feira, 12 de março de 2010
Inconformidade Interna
O mundo está completamente deturpado. Que abram os olhos e vejam a sua veia pulsante de crueldade antes que seja tarde demais. O passado é negro, o presente é obscuro ao extremo e o que será do futuro? O apocalipse? Não em sua real terminologia, mas aquele que dizem ser predito pela Bíblia. O famoso “Fim dos Dias”. O mesmo previsto pela civilização Maia, e que cada dia está mais perto de acontecer.
Solidariedade já deixou de fazer parte do vocabulário mundial, agora a “Lei da Selva” não se aplica mais à fauna, quem tiver dinheiro detém poder, e com poder, faz-se muito, inclusive atrocidades. Estas recorrentes no dia-a-dia da nação mundial. Mas vamos fechar o escopo apenas no Brasil.
Quando foi a última vez que você leu o jornal e não deu de cara com alguma matéria noticiando uma tragédia? Morte? Homicídio? Desastres naturais? Em menos de 1 semana, o Chile sofreu dois terremotos, ambos de magnitude considerável, o desastre não foi tão forte como em Porto Príncipe, no Haiti, mas resultou em mortes da mesma forma. Famílias desabrigadas, que de uma hora para outra perderam tudo o que batalharam anos para conquistar.
Não adianta. Podemos ficar inconformados, mas essas acontecimentos fogem ao nosso alcance. Não temos o controle, o destino está jogado a sorte da roleta russa, só que neste caso, o tambor está sempre carregado com 6 balas, e não apenas 1. Alguém, em algum lugar do mundo, em qualquer beco, viela ou avenida, vai sofrer as consequências do puxa. do gatilho.
Difícil é conviver em um mundo onde a impunidade está em alta, tanto quanto a fome e os índices de soro positivo nas nações africanas, tanto quanto o número de desempregados e desabrigados na nação brasileira, pátria amada. Repleta de ninhos de cobra e corjas das mais variadas laias.
Como salientado, quem tem dinheiro, consequentemente tem poder, e com poder, ha!, digamos que Maomé nunca precisará ir à montanha, se é que entenderam a analogia.
Triste acordar com a certeza de que vai ser mais um dia como todos os antecessores. Mais um dia de páginas vermelhas com notícias de tragédia, assassinatos que nunca serão resolvidos e os autores nunca serão encontrados, quem dirá julgados. Mais um dia de catástrofes naturais, muitas das quais nem sabemos que existe, mas creiam, elas acontecem.
É inevitável, assim como pagar taxas e a morte.
Nunca teremos controle. Infelizmente.
O que nos resta é recolher os pedaços estilhaçados da pouca dignidade que os outros têm e tentar ajudá-los a se pôr de pé.
Quem a morte de mais um paulista, um homem íntegro, sério, inteligentíssimo, que botava um sorriso diário naqueles que liam suas tiras, que dava um sopro de alegria em um mundo tão perturbador e acomodado com suas mazelas, que a morte desse cartunista, ainda jovem, não tenha sido em vão e sirva como um despertar catártico a todos.
Vai em paz, Glauco, com Geraldão, Geraldinho e sua turma.
Meu, para o mundo.
terça-feira, 9 de março de 2010
Semeando, no Meio, o Fim
Dois insultos lançados
Duas vidas distanciadas
Um coração no chão
Outro escorado na parede
Ambos sem sentimentos
E agora, sem pulsação
Remorso ácido
Corroendo o que foi bom
Deixando apenas frustração
Que belo dom
Sinapses incessantes
Delirantes, emergentes
Dormentes
Dor lancinante
Esperança maior
Em busca de algo melhor
Mas o melhor é ti,
O bem que tive, o esplendor.
Loucura dominante
Minha mente latejante
Disparando contra mim
Não quero que tenho um fim
Faz tempo
Mais do tempo que me lembro
Você se afasta de mim
Isso é o entremeio pra mim
Não vá. Fique. Me xingue
Me agrida
Verbal ou fisicamente
Mas fique comigo
Posso querer ser mais que um amigo
Mas, contigo, sou o que puder
O que bem quiser
Seja como vier.
segunda-feira, 8 de março de 2010
Rabisco de um Arrisco
Sem anseio
Nem receio
Arrisco por mim
Por todos
E, em vão, por ninguém
Arrisco pelos dias nublados
Nem tanto nos ensolarados
E veementemente nos misteriosos
Arrisco pelo futuro do ontem
O passado do presente
E o hoje do amanhã
Arrisco com o punho em riste
Na alma calejada de incertezas
Arrisco por não temer
Por querer viver
E ter histórias para versar
Arrisco por arriscar
No risco de flagelar
Na dúvida de alcançar
Arrisco em pé
Deitado na malha fina
Serpenteado de flores murchas
Arrisco na vida
Desafiando a morte
Rindo do infortúnio
Arrisco pela passagem
Pelo prazer da viagem
Vagando sem bagagem
Arrisco sem a pele do corpo
Trocados no bolso
Caderneta na mão
Arrisco no traço
Zombando do embaraço
Elucubrando sentidos
Risco o arrisco
De risco arriscado
Arriscando o riscado
Rasgando os riscos
Odiado na neve
Branca de gelo.
A homenagem à ela
Os teus mergiram com os dela
Um largo sorriso se anunciou
No rosto calmo e sereno.
Marejou copiosamente
As lágrimas trilharam rosto abaixo
Recaíram sobre sua bochecha
E ela, delicadamente,
Enxugou com o manto que a cobria.
Assim foi que veio ao mundo
O pequeno-grande-futuro fruto
A união do amor e da paixão
De um laço vivido a fundo.
Os dedos entrelaçados
A mão gigante, deslizante
Uma menor, desprotegida
Encontrou um berço confortante
O primeiro aniversário
O primeiro sorriso
O primeiro amor
E a primeira paixão
Tudo necessário
O remédio para os maus dias
E para os outros melhores
Para os anos difíceis
E o apoio de muito maiores
Um porto
Um seguro
Um abraço
Um feixe de luz no escuro
Nasce menina
Torna-se garota
Transforma-se em moça
E evolui para mulher.
Ela é filha
Amiga, tia
Mãe, avó.
Acima do sempre
Ao lado da gente
Indispensável, ontem
Inseparável, hoje
E irrevogável, amanhã.
Mulher forte
Mulher fraca
Mulher mulher.
O elo lindo
O cadeado mágico
O ladrilho especial
A peça essencial.
sexta-feira, 5 de março de 2010
Roleta de Sarjeta
Acerta um,
Acerta dois,
E falha no terceiro.
Sorte de principiante?
Ou lampejo de mandante?
O vidro estilhaçado no chão
Ao lado do saco de pão
Margeando a sarjeta suja
Onde outrora sentou um irmão
Frio. Desalento e desatento.
Bateu a chave na porta
Confundiu a maçaneta
Com a linha torta
Ouviu o estalido do contato
Os pólos se conectaram
E o álcool subiu-lhe pelo olfato.
Esse foi o começo
Do meio que chegou ao fim,
Sem ter nem por onde iniciar
Ao som de Partimpim.
quarta-feira, 3 de março de 2010
Entre 8 minutos
Meio tarde pra escrever.
Mas quem foi que disse que existe um horário para começar a escrever? O que entenderia essa pessoa do ato de escrever?
Tem quem escreva pela manhã, com o sol raiando no horizonte e aquele frescor matinal adentrando a janela recém aberta, com suas cortinas ainda esvoaçantes da primeira lufada de ar depois de uma noite de repouso e uivos.
Tem quem escrevea pela tarde, durante seu tempo ocioso no trabalho, ou assim que chega da escola, da faculdade ou de qualquer outra atividade extra curricular. Tem as meninas que escrevem em seus diários, contam suas paixões crônicas, seus anseios e desesperos pelo rapaz novo que acaba de entrar no colégio e reza para que ele apaixone-se por ela. Tem aquele rapaz revoltado, no auge de seus 15 anos, com a mente ainda inocente, mas ávido em ser transgressor, agir contra tudo e contra todos, sem se importar com as consequências que mal sabe que essas, ah, essas ainda vão segui-lo por muito tempo.
Tem aqueles que só rabiscam palavras aleatórias, nas quais é possível detectar uma infinidade de sentimentos e uma imensidão de significados. Qualquer pessoa que saiba ler caligrafias pode dizer o que representa um corte diferente na letra T, ou o que expressa extender a perna da letra G ou o que diz a ausência de um pingo na letra I.
Escrever é uma arte, da qual a prática faz parte. E como toda arte, demora-se um tempo para adquirir o conhecimento necessário, empregar as pontuações nos momentos certos, saber quando acentar um A com crase ou quando deixar essa crase para um próximo momento, utilizar um sinônimo para que a mesma palavra não se repita antes do próximo parágrafo.
Detalhes. Como na pintura, a escrita é cheia de nuances e diz mais quando enxerga-se o micro, ao invés do macro.
1:08.
segunda-feira, 1 de março de 2010
Impiedosa Valentia Reclusa
Momento de transição
Do pensamento e da criação
Criação infinita
Mais crente e finita.
Mudanças na mente
E na alma recente
A posiçao da mesa é diferente
Nada instigante e pouco latente.
A janela me chama
O asfalto me sacode
Meus pés estão flutuantes
Cada lugar é um piso falso.
Carreira, de dominós
Só pode ser.
Um cai e derruba o próximo
Sobrando apenas um desnorteado.
Enxergar o mundo através da lente
Ver o sol nascente
Registrar o instante recente
E viver. Para sempre.
Cada dia mais valente.
Meu, para o mundo.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
Do Sentado ao Choro para o Sono
E a janela clareou
Seus olhos se abriram
Para o mundo ver mais lindo
Revirou-se no sofá
Pegou o controle
E mudou de canal
Nada na programação matinal
Apenas o pensamento
Constante e sincero
Da saudade a repetir em loop
Uma saudade suntuosa
Cheia de camadas
E repleta de desníveis
Pôs-se sentado
De frente para o tubo de imagens
Faltou-lhe o ar nos pulmões
Agarrou-se ao remoto
E teclou números aleatórios
Sem nada que gostasse
Desligou a televisão
Reuniu forças pra levantar
Mas seu corpo estava fraco
Perene, como se estivesse morto
Seu pensamento viajou mais um pouco
Glândulas começaram a processar a vida
Serrou os olhos por um momento
Tempo suficiente para que a primeira
Começasse a descer a ladeira da epiderme.
Soluçou como uma criança
Copiosamente e sem guarda
O escudo tinha se quebrado
O coração estava confuso
Profusamente saudosista
Recolheu suas pernas para cima
Jogou a manta sobre seu corpo
Serrou os olhos lagrimais
E entregou-se a Morfeu
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Existencialismo da Brancura
No meio do caminho, não esqueça de apreciar as nuvens em toda sua complexidade, suas formas descontruídas que abismam os terrestres e os entretem por horas em uma tarde ensolarada no parque, enquanto apontam para as construções incongruentes e disformes que revelam formatos conhecidos do senso comum incrustado em seus cérebros.
Toque os fenos plumosos-consistência mole que remetem a sua infância adocicada e as infindáveis horas em que ficava perambulando pelos brinquedos, montanhas russas, teleféricos.
O céu é infinito. Disso não tenha dúvida. Sua imensidão jamais será medida. Raio e diâmetros são desconhecidos. A magia encontra-se exatamente no desconhecido. Esse sentimento antagônico de angústia e tranquilidade responsável por extasiar a cada dia um mundo de possibilidades proporcionadas por flocos gigantes e de massa indefinada.
Orgânica, espacial, transcendentalista. Supranatural, vital e primordial. Cimo dos povos e cúpula divisora com o resto do universo, que impede a observação da atmosfera.
Além da tela azul clara dos dias acalmantes, além da pintura cinzenta dos dias nebulosos e instigantes, além da tela azul escura das noites quentes e secas que despertam os mortais de vidas monótonas e convida-os a aproveitar a vida sob uma pincelada de profusão curiosa, além da tela azul que abraça os sonhos dos inertes e mumificados pelos lençóis-cobertores-edredons. Além culminante da sabedoria popular, abriga mistérios e nuvens de incerteza.
O sincretismo eleva todos aos céus, atravessar as nuvens rumo ao desconhecido, rumo ao que a inteligência humana está aquém de poder compreender, medir e sentir em sua totalidade. Signficativamente, expressivamente, ludicamente.
Aguarde por mais longínquos anos.
O tempo vem para cada um no momento certo. Espreita pelas frestas das portas, por entre o concreto e a madeira do batente das portas de banheiros, de quartos, de cozinhas.
O tempo de concretização da caminhada pelos infinitos campos brancos. Pelas passadas almofadadas, pela fusão da pele com a matéria espessa e fofa. O entrelaçar das falanges com o algodão doce das alturas.
Resta muito pouco.
Ou talvez seu tempo terreno seja extenso e não se possa sequer ver o fim na linha do horizonte.
Devaneie sobre o inexplicável. Entregue-se ao descobrimento das figuras submersas na neve aérea. Deixe se levar pela maravilhosa sensação que envolve sua alma e acalenta seus olhos.
O céu está sempre brilhando.
Azul claro-escuro-cinza-neón-nuvem-céu-fofo-suave.
Erga as mãos e sinta a leveza das espumas brancas na palma de sua mão.
Perca-se na imensidão dos pensamentos, esqueça os bens materiais, as roupas, seu carro, sua moto, seu apartamento, seu computador, sua televisão, suas mídias sociais, seu dinheiro. Entregue-os. De corpo e alma. Sem recear o futuro-momento turvo.
Abra os braços e o coração. Experimente. Frequente esse lugar sempre que quiser.
Feche os olhos e meça o peso na palma de sua mão. Meça o que realmente importa.
O céu está está livre para admiração de todos.
Crentes, descrentes, agnósticos, budistas, xintoístas, taoístas, católicos, judeus, muçulmanos, hindus, evangélicos, protestantes ou indiferentes. Desacreditados e idealistas. Trabalhadores e artistas. Músicos e letristas. Literários e mestrados. Graduados e analfabetos.
A apreciação vem do coração, e para isso, as leis dos homens não importa. Apenas o sentimento comanda. Quem dita as leis e escrevre-as é a sensação, o olhar, a percepção, a emoção.
Liberte-se das amarras do senso comum e desperte para o infinito.
Para o improvável, o irremediável, o inevitável, o incrível.
O céu está muito próximo de estar longe do toque dos dedos.
Ele está para todos que quiserem.
E para todos que quererem.
Todos. E para nenhum.
Céu anis-cinza-azul-chuvoso-pardo-poente-expoente-no horizonte sem fim.
Meu, para o mundo