sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Existencialismo da Brancura

Espere chegar aos céus e ver o que ele tem de bom e de melhor.

No meio do caminho, não esqueça de apreciar as nuvens em toda sua complexidade, suas formas descontruídas que abismam os terrestres e os entretem por horas em uma tarde ensolarada no parque, enquanto apontam para as construções incongruentes e disformes que revelam formatos conhecidos do senso comum incrustado em seus cérebros.

Toque os fenos plumosos-consistência mole que remetem a sua infância adocicada e as infindáveis horas em que ficava perambulando pelos brinquedos, montanhas russas, teleféricos.

O céu é infinito. Disso não tenha dúvida. Sua imensidão jamais será medida. Raio e diâmetros são desconhecidos. A magia encontra-se exatamente no desconhecido. Esse sentimento antagônico de angústia e tranquilidade responsável por extasiar a cada dia um mundo de possibilidades proporcionadas por flocos gigantes e de massa indefinada.

Orgânica, espacial, transcendentalista. Supranatural, vital e primordial. Cimo dos povos e cúpula divisora com o resto do universo, que impede a observação da atmosfera.

Além da tela azul clara dos dias acalmantes, além da pintura cinzenta dos dias nebulosos e instigantes, além da tela azul escura das noites quentes e secas que despertam os mortais de vidas monótonas e convida-os a aproveitar a vida sob uma pincelada de profusão curiosa, além da tela azul que abraça os sonhos dos inertes e mumificados pelos lençóis-cobertores-edredons. Além culminante da sabedoria popular, abriga mistérios e nuvens de incerteza.

O sincretismo eleva todos aos céus, atravessar as nuvens rumo ao desconhecido, rumo ao que a inteligência humana está aquém de poder compreender, medir e sentir em sua totalidade. Signficativamente, expressivamente, ludicamente.

Aguarde por mais longínquos anos.

O tempo vem para cada um no momento certo. Espreita pelas frestas das portas, por entre o concreto e a madeira do batente das portas de banheiros, de quartos, de cozinhas.

O tempo de concretização da caminhada pelos infinitos campos brancos. Pelas passadas almofadadas, pela fusão da pele com a matéria espessa e fofa. O entrelaçar das falanges com o algodão doce das alturas.

Resta muito pouco.

Ou talvez seu tempo terreno seja extenso e não se possa sequer ver o fim na linha do horizonte.

Devaneie sobre o inexplicável. Entregue-se ao descobrimento das figuras submersas na neve aérea. Deixe se levar pela maravilhosa sensação que envolve sua alma e acalenta seus olhos.

O céu está sempre brilhando.

Azul claro-escuro-cinza-neón-nuvem-céu-fofo-suave.

Erga as mãos e sinta a leveza das espumas brancas na palma de sua mão.

Perca-se na imensidão dos pensamentos, esqueça os bens materiais, as roupas, seu carro, sua moto, seu apartamento, seu computador, sua televisão, suas mídias sociais, seu dinheiro. Entregue-os. De corpo e alma. Sem recear o futuro-momento turvo.

Abra os braços e o coração. Experimente. Frequente esse lugar sempre que quiser.

Feche os olhos e meça o peso na palma de sua mão. Meça o que realmente importa.

O céu está está livre para admiração de todos.

Crentes, descrentes, agnósticos, budistas, xintoístas, taoístas, católicos, judeus, muçulmanos, hindus, evangélicos, protestantes ou indiferentes. Desacreditados e idealistas. Trabalhadores e artistas. Músicos e letristas. Literários e mestrados. Graduados e analfabetos.

A apreciação vem do coração, e para isso, as leis dos homens não importa. Apenas o sentimento comanda. Quem dita as leis e escrevre-as é a sensação, o olhar, a percepção, a emoção.

Liberte-se das amarras do senso comum e desperte para o infinito.

Para o improvável, o irremediável, o inevitável, o incrível.

O céu está muito próximo de estar longe do toque dos dedos.

Ele está para todos que quiserem.

E para todos que quererem.

Todos. E para nenhum.

Céu anis-cinza-azul-chuvoso-pardo-poente-expoente-no horizonte sem fim.


Meu, para o mundo

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