quarta-feira, 16 de junho de 2010

Chegou a Vez Mais Uma Vez

Chegou a vez do coração bater novamente. Ritmado, em clima de Carnaval. Público lotado, cadeiras recheada. A plateia não consegue respirar de tão lotada. Não se tem como levantar os braços para comemorar ou soltar aquele grito engasgado na garganta. Só resta sorrir. Mostrar os dentes para o horizonte sem fim, enfim, feliz no interím.

Chegou a vez dos pulmões respirarem leves novamente. Lufados e estufados pelo ar puro das planícies selvagens, habitadas por animais campestres regozijantes em tamanha relva recém-descoberta por aqueles pulmões virgens. Ao fundo, ouvem-se as quedas da cachoeira que sua alma há tanto sonhava em reencontrar. Perímetro inviolável da natureza, agora violado pela felicidade de seus aovéolos e brônquios.

Chegou a vez dos olhos marejarem de felicidade novamente. Felicidade por ter encontrado outrém em mesma situação. Felicidade por ter seu espírito tranquilizado e afagado por braços firmes e por um coração amolecido esplendoroso. Demorou tempo suficiente para seu corpo tomar sua forma antiga e preparar o terreno da alma e estar receptivo às influências externas mais uma vez. Os olhos agora têm outra menina. As íris detectam cores há muito apagadas, e há pouco re-descobertas. A retina brilha, cintilante, como a primeira estrela a dar o ar da graça no céu quando a noite nasce, avivando a claridade no coração dos apaixonados. A luz da Lua é ofuscada por estes olhos novos, vívidos. Altivos. Agora, reativos.

Chegou a vez das mãos transpirarem novamente. Ansiedade à flor da pele. As transpiração atrapalha no digitar, mas empolga, por saber que muito mais dela vem aí. E junto, aquele palpitar desenfreado, quase taquicardiáco. Junto a ela, vem muito mais, vem o frio na barriga, o medo de pisar em falso, o medo de errar, dizer alguma palavra que vire o rosto, que quebre o encanto. Comedido. A transpiração comedida sem medida, feita sob medida para este novo momento.

Chegou a vez de ser o da vez novamente. O da vez para alguém especial, aquele alguém que precisava justamente deste outro apagado. A vez de sorrir com o raiar do sol, de madrugar por aí, sem rumo, deixando para trás qualquer documento que lhe prenda ao passado. A vez de novos escritos, de novas frases, inventadas, nunca reutilizadas. A vez de ser completo. O quebra-cabeça finalizado, preparado para ser pendurado na parede, não como prêmio, mas como obra. Arte em seu primor. Apenas.

Chegou a vez mais uma vez.



Meu, para o mundo.

Um comentário:

Unknown disse...

você escreve muito bem!! muito profundo isso!