sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A efervência dos sentimentos

Seus olhos na minha mão, focados nos traços cometidos pelas falanges.
Sua mão tocando as minhas veias saltadas, resultado do fluxo sanguíneo que por elas passam e uma tentativa pífia de academia.

Os dedos já calejados pelo tempo, pelas teclas pressionadas durante os últimos oito anos desde que fora inserido no meio digital, ou pelo menos apresentado ao Bloco de Notas do Windons.

Os braços longos e esguios, largados ao vento, fixados ao corpo por ligamento já velhos e desgastados pelos verões e invernos mal tratantes.

O velho cigarro amassado na orelha, torto, dilacerado e com fissuras expondo as entranhas do tabaco para quem estivesse passando, poder ver a decadiencia que aquele fino canudo de seda enrolada significava, tanto no momento ambiente quanto ao interior do ser humano.

A aspirina efervecia no copo de chá a cada gole de café que era sorvido pelos lábios finos e opulentos da mulher mais recatada que estava no mezanino da cafeteria.

Minha cabeça latejava pulsante e doente a cada bobulhar de risos que eram exaltados no microambiente. Tentava concentrar-me em outra coisa.

Os olhos dela não eram tão compenetrantes e instangáveis como lembrava serem da primeira vez que recobri o seu rosto com minhas retinas.

Buscava no lugar mais profundo e insólito de minha alma, alguma razão para estar sentado, além de esperar a interminável dissolução da aspirina no fundo transparente daquele copo de chá amarelo ouro.

Acendi o cigarro cicatrizado pela vida e dei o mais intenso e longo trago de minha vida, esperando ter uma epífane enquanto o fazia, ou ao menos receber um sinal que me fizesse continuar ali.

A aspirina dissolvendo. Seus olhos esmorecendo a cada segundo transeunte.

O cigarro queimando incessantemente na minha boca e por entre meus dedos as cinzas do que fora um dia a nossa relação.

O chá particularizado do restante de aspirina estava pronto.

Sorvi tudo num único gole de adeus à nós.

Meus neurônios já sentiam o degringolar dar dor e sentiam-se vivos, reanimados e prontos para mais elaborar novas acepções sobre a vida.

Marretei o filtro do cigarro no cinzeiro e levantei-me perante ela.

Somente uma lágima verteu de tudo isso. A dos nossos corações unidos sobre a mesa, expostos aos passageiros das ruas, aos pedestres dos ônibus. Uma lágrima de sofridão e alívio temporário.

Parti com os dedos a minha metade do orgão vermelho da vida e costurei à metade ainda latente em meu peito, na expectativa de reavivá-lo.
Por um instante pensei ter conseguido, mas era ilusão. Já estava inválido e decrépito. Joga-lo-ia na caçamba de lixo mais próxima.

Aproximei meus lábios de seu rosto feito de plumas, toquei-lhe a face com os ossos expostos de meu rosto e parti.

Nada foi dito.

As palavras não preencheriam o espaço negro que havia entre nós.

Simplesmente, bastou a troca de olhares.

Tudo acabado. Finito. Done. Fim.

2 comentários:

Maria Loverra disse...

Agora eu entendi porque ela, no meu texto, resolveu ir embora.

Não foi ele que me deixou.
Até pensou.

Mas fui eu que não voltei mais.


Quando te abraço e quando te escrevo, temos alguma ligação louca. Concorda?

Beijos bonitô.

Unknown disse...

eu diria que nada posso dizer, nesse texto em que tudo ja foi bem dito! e se foi dito la tras pq dizer novamente?! ahn!? acredito que o que se deve dizer daqui pra frente é algo novo e concerteza inédito pra aquilo que um dia ousou e dizer a alguem! me diz! que tal!?