Acordou de átimo. No susto. Não conseguiu se localizar.
Viu algumas peças de roupa espalhadas pelo chão. A sua camiseta preta-desbotada-velha-que-sua-mãe-queria-que-jogasse-fora, mas recusava-se sempre. Um pé de meia ao lado da cama e o outro em um dos braços do mancebo. Achou estranhíssima a localização, porque nunca jogava as meias, sempre as colocava ao lado tênis ou dentro do mesmo.
O tênis! Onde estavam seus tënis? O All-Star branco surrado já era parte de sua vida. Caminhou muitos quilômetros com ele. A pé ou de carro. No calor e no frio. Na chuva ou no sereno. "Que caralho! Onde eles tão?" - pensou ele, quase tão alto para sair o som dos lábios.
Levantou, começou a vasculhar todos os cantos do quarto, milimetricamente. Não podia ter perdido, esquecido em algum lugar. Tinha que estar lá. Em algum lugar, enfurnado, nas sombras da escuridão. O lugar mais óbvio foi onde ele os encontrou. Embaixo da cama. Quase encostados na parede na outra extremidade. Esgueirou-se por debaixo do estrado de madeira seca e alcançou o cadarço de um dos pés. Miraculosamente, o outro veio junto, sem medo, sem vergonha. Simplesmente foi caminhando como que de mãos dadas com o outro pé.
"Bom. Encontrei minha camiseta, minhas meias e meu par de tênis. Está faltando o quê por encontrar ainda?"
De repente, notou uma certa estranheza. Daquelas que dão um arrepio no meio das costas e vai percorrendo verticalmente toda a coluna, as vértebras, as estrelas, até alcançar o cume da nuca.
O quarto continuava escuro, mas no meio da neblina turva que pairava sobre seus olhos, conseguiu ver um quadro pendurado na parede oposta a ele, logo à sua frente.
Foi aproximando-se. Pé ante pé. Dedo perante dedo. Perna atrás de perna.
Quando chegou a uma distância consideravelmente propícia do quadro, esfregou os olhos e não pôde acreditar no que vira.
O mural de fotos de sua namorada. Do mesmo jeito que estava na noite anterior.
Começou a roda gigante de sensações neste exato momento. Ele olhou para sua esquerda e viu o armário onde ela guarda todo o seu estoque de estilo e tendências, mais ao fundo, podê ver um quadro com uma ilustração de seu cunhado, provavelmente na casa de seus 3 / 4 anos.
Mais um pouco a esquerda, viu a porta do banheiro.
Há muito não entrava lá.
Tinha estado nesse habitáculo somente uma vez, e em uma época muito conturbada de sua vida. Quando nada era o que parecia ser e ele não era nem um décimo do que ele é hoje.
Segurou a maçaneta da porta, que de imediato rangeu os dentes na palma de sua mão. Girou-a suavemente. Ouviu o clique do destravar. Ela abriu sem reclamar. Sem temer. Entrou. Olhou para a pia, abriu a torneira, e com a água corrente que jorrava, lavou o rosto. Não podia acreditar naquilo.
Tocou o espelho do banheiro, deixando a planta de sua mão gravada com gotículas, do que em breve sera vapor e sumiria, deixando apenas as suas digitais. Fez um giro de reconhecimento no banheiro para se familiarizar com a disposição das toalhas, do box, dos produtos que sua namorada usa para se maquilar. Ele sabe que ela não precisa. Naturalmente já é linda. Uma pele suave como nenhuma outra antes tocada. Os olhos mais bem definidos e encantadores que o conquistou. Os lábios finos e corpulentos que mais desejou beijar em sua vida. A pomada para o cabelo loiro-moreno-aura tocado pelos raios do sol.
"Como ela é linda. E tudo isso só engrandece ainda mais a sua beleza. Torna-a mais desejável, mais encantadora, mais sexy, mais sensual. Tudo nela é perfeito. Até a escolha dos produtos, que não faço a menor idéia de quais são as marcas." - Suspirou sozinho olhando-se no espelho. Seu semblante apaixonado e sonhador. O espelho tocou suas estrelas com os olhos de vidro.
Caminhou o pequeno percurso do banheiro até a cama.
Sua namorada. Rosto sereno. Alma grandiosa. Corpo sensual e bem torneado. Ela dormia profundamente. Sua respiração contínua levantava sua caixa toráxica e avolumasa seus seios bem definidos. Seus olhos tremiam ininterruptamente, como se estivesse em um viagem sonhadora. Sua boca entre aberta deixava escapar alguns sopros de vida.
Ficou ali. Parado. Petrificado. Paralisado. Simplesmente observando-a dormir. Tranquilamente.
Cada minuto que passava, tornava mais evidente que não era uma ilusão. Real. puramente real. Ele estava no quarto, com a namorada dormindo perante seus olhos. O peito desnudo, as costas estreladas encostada no móvel que sustentava a televisão.
Seu peito arranhado evidenciava o quão intensa tinha sido a estadia dele naquela cama, naquela noite que transcorreu por completo faziam apenas algumas horas. As marcas da paixão, do desejo, do tesão cataclísmico que recaiu sobre ambos.
Pegou o celular jogado ao chão e pressionou um botão lateral. Uma luz no display acendeu e revelou o horário. Oito e quarenta e sete da manhã. Sábado. Dia Vinte de Dezembro de Dois Mil e Oito.
Realidade. Seminua. Arranhada. Verdadeira. Crível. Linda. Almejada. E realizada.
Escorou a cabeça no móvel. Olhando fixamente para sua namorada. Com os olhos fechados e o peito aberto.
Caiu em sono novamente.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
E o futuro de nós dois só é tao bem desenhado porque o presente não poderia estar sendo melhor. Gledz, não poderia. Você não tem noção do quanto, agora (seis da manhã) eu tô pensando em você, toda apaixonada sem saber muito o que escrever aqui. Eu queria te escrever o mundo, os minutos que não estou com você, copiar e colar todas as músicas que te pedem como o motivo delas existirem. A gente é e vai ser mais feliz do que o mundo espera de nós. Porque de você eu já espero tudo, tudo mesmo. E de nós dois o tudo ao quadrado. E sete vezes sete.
Eu não quero falar sobre o texto.
Quando o roteiro da vida real acontecer de fato eu vou dizer no seu ouvido tudo sobre o futuro mais certo que eu tenho na minha vida.
E não é como se diz no telefone "e se tudo der errado ..."
NADA! Se depender de mim você é o acerto da minha vida.
E você não precisa fazer muita coisa ...
... só me abraça, me abraça por tudo que for.
Postar um comentário