sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

À cinco dias do Primeiro de Dois Mil e Nove

Acordei naquele 1º de janeiro depois de passar um Reveillón em frente à TV, assistindo o show da Virada no canal Globo. Confesso que poderia estar passando em qualquer outro lugar do mundo mas, naquela situação, resolvi me apegar à família. Não me arrependo da escolha, e muito menos das risadas que vivenciei.

Aquele dia começou como mais um, repleto de incertezas e desembaralhando um ano que seria igual à todos os outros, exceto por uma minuscule diferença, que depois se tornaria colossal e primordial: não existia mais uma faculdade para ir durante os dias, e mais nenhum bar para tomar um porre e experimentar as mais diversas sensações, tanto boas como ruins.

Nada havia de bom. Um coração partido e ainda em busca de seus cacos espalhados por São Bernardo pulsava na caixa toráxica que há muito não presenciava tais sentimentos. Erguer a caebeça naquele cenário pós-apocalíptico foi extremamente estafante e angustiante, uma vez que não a quem recorrer e tudo era sufocante demais: as pressões vindas pelo lados dos familiares, as cobranças internas e cognitivas, a falta de emprego que a cada dia evidenciava que o mercado realmente não era para os fracos.

A carteira de trabalho estava empoeirada, de tanto que ficara guardada desde dois mil e quatro, quando foi concebida pelo Governo do Estado de São Paulo. A famigerada e tão almejada Carteira de Trabalho. Ela nada mais é do que a sua foto 3x4, colada com Pritt, isso mesmo, aquela famosa cola bastão, com a qual você colava os seus trabalhos escolares no primário e ao primeiro folhear da professora, os recortes iam se descolando e lentamente, como as folhas que caem no outono, iam de encontro ao chão.

Esse caderninho azul nada de especial tem, traz apenas uma falsa segurança de que ao final de sua vida, terás uma mesada, já que a tão sonhada por todos, aposentadoria, não passa disso. Ela é a sua mesada quando finalmente chegar a hora em que não mais pode se sustentar por si só, sem a ajuda ou auxílio de ninguém. Quando alguém dá por encerrada a sua vida profissional, e aconselha que você receba a sua mesada mensalmente, e sorria com um largo e amarelo sorriso de orelha a orelha, e faça-se satisfeito por ter aquilo.

O ano seria de desespero, de muita preocupação, de olheiras infindáveis, de noites em claro, apenas pensando que nunca chegaria a vez de mostrar ao mundo o que poderia fazer.

Até que em março, a sorte começou a virar e a maré ficou à favor. O primeiro contrato foi assinado uma agência de promoção, onde humildemente e com ajuda de 7, das melhores pessoas que já conheci, pude desempenhar e apresentar finalmente o potencial que há muito estava guardado, em ebulição, prestes a explodir.

Poucos meses se passaram, e no final de maio, mais precisamente um dia antes do final do mês, um momento mágico acometeu a vida e os dias, a partir daquele, nunca mais foram os mesmos. As noites se tornaram claras, e os dias passaram a ser mais belos e calorosos.

No final do mês seguinte, um desalento. A primeira dispensa profissional, ou como é conhecida, a primeira demissão. Engraçado esse negócio de demissão. Ser demitido faz parte da vida de qualquer pessoa, mas, pelo menos, demita-a por algum motivo plausível, e não pela alegação de que não tem a experiência necessária para a função. A experiência vem com o tempo e com a prática, e não com a pouca estada em cada emprego que se passa.

Enfim, mais quarenta e cinco dias de apreensão e noites passadas ao relento, com bebedeiras aos finais de semana para apagar da memoria o que havia acontecido e esquecer, ou ao menos, para tentar ludibriar pela fração de um shot de tequila ou de uma vodka com energético.

Dia 24 de julho de 2008. A segunda entrevista de emprego. 17:30h. Dois homens, na casa de seus trinta anos, entrevistam um garoto de 22 anos, com toda a gana do mundo e com a maior vontade do universo de fazer o melhor de sua vida e de sua carreira.

Dia 25 de julho de 2008. 10 da manhã aproximadamente. Chega no e-mail do garoto a proposta de emprego, com salário, vale refeição e vale transporte. Discutiu a situação com seus pais, principalmente com seu pai, o mais experiente e em quem mais confia para os negócios de alçada financeira. A resposta foi irredutível: aceite! É uma boa oportunidade. Aceite.

Dia 26 de julho, sexta-feira. 9 da manhã. O garoto, de apenas 22 anos, cheio de alegria no coração e de coragem no sangue responde o e-mail aceitando a proposta, mal sabendo que ali, começava a maior montanha-russa de sua vida.

Daquele dia em diante, seu corpo passaria a ser consumido pela indústria da publicidade e da propaganda. Suas noites passariam a serem os dias, e os seus dias passariam a ter menos horas do que seriam necessárias.

Começaria ali, eu, a trocar qualquer trinta minutos de sono, por trinta minutos bem acordados, e de preferência com um livro em mãos para não perder tempo.

Passaria a recorrer às vitaminas, não por falta de alimentação, mas por complemento alimentar, porque mesmo que se alimente regularmente, sempre uma vitamina é deixada de lado, e essa drágea apenas repõe ela, ao contrario do que pensa uma pessoa de importância inestimável.

A partir daquele dia, num prazo de 2 meses, estaria sendo pedido em namoro.
E no prazo de 5 meses, estaria escrevendo o texto de final de ano da agência para ser enviado aos clientes, com direito à esposa do chefe comentando o quão o texto estava bom, e ouvindo do chefe, que ele não mandaria algo a ela se não achasse que estivesse bom.

Eu sei que a transição no texto da primeira pessoa, para a terceira pessoa, e novamente para a primeira não agrada a muitas pessoas, mas eu aprecio essas transições.

Para alguns, ela tira a atenção e o interesse do texto. Mas eu vejo diferente. Vejo que se a pessoa se interessou pelo texto, estará lendo essas palavras aqui, ao contrario das outras, que por natureza não tem o costume de ler.

Agora, para encerrar, eu tenho um recado.

A aliança no meu dedo anelar – da mão esquerda, está brilhando neste exato momento (4:24h do dia 27 de dezembro de 2008) não por conta do reflexo do monitor, mas sim porque neste exato momento a estrela que reside nele dorme pacificamente, à 900km daqui.

E quando ela acordar, eu estarei dormindo, e o meu estará reluzindo porque ela estará sorrindo para mais um lindo dia.

Minha aliança brilha intensamente enquanto você dorme, e lindamente quando você sorri.

Nenhum comentário: