terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sílabas em Salada Russa

pode começar.
tecla por tecla.
junte as letras e veja no que dá.
um homem cabeludo seminu no meio
do Araguaia segurando uma rede de pesca.
de longe, avista-se uma mulata,
de corpo divinamente escultural
segurando uma lança. ela, toda nua.
os olhares confrontam-se.
explosão na água. uma dinamite
plantada por pescadores ilegais bolivianos,
radicados no Brasil por seus atos terroristas
na ex União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
proferidos na entrada do Kremlin.
incrivelmente, essas histórias não têm nada
em comum.
fazem sentido só para aquele que escreveu.
ninguém mais.
a desvalorização completa do ser frente ao computador
e sua audiência conectada a cabos de rede e fibra ótica,
provenientes de um sinal wireless enviado por um
roteador pregado na parede com fita dupla face ou cola quente.
mesma história de sempre. personagens dissonantes de ontem,
algum documentários extraídos na TV durante a noite
de insônia. "Pescadores do Araguaia", se é que existe
esse título. Agora os bolivianos que atentaram
contra o Kremlin, talvez sejam de um filme,
onde os atores eram americanos e se disfarçavam de russos.
talvez.



Meu, para a aleatoriedade diária da internet.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Vai Ser Assim?

a complexidade se torna rítmica
todos querem viver mais que
os que já foram. mas com que sentido?
qual o propósito de 100 anos de existência,
se em 65 você já se torna decrépito,
insolente? individualizado pela própria
natureza que o fez para viver o
tempo necessário para deixar sua marca?
nem se for somente a do seu nascimento,
não de nascença. do nascimento de mais
um indivíduo que vai vagar dias e noites,
e noites adentro sem rumo,
fadado as mesmas escolhas ruins de outrém,
que já foram. embaixo da terra só os
suspiros do cabelo como bolas de feno
nas cidades fantasmas chinesas,
construídas para habitarem o pó e
proliferarem as bactérias acumuladas
no canto da boca dos construtores
de uma região em vão.
ninguém são nessa terra perdida-azul?
onde estarão os cidadãos do futuro
se não existir o amanhã?
enclausurados em celas de vidro, com
suas mãos tocando os grãos de areia
industrializados em uma placa transparente,
essa que permite ver a chuva cair,
a neve derreter e o calor do lado interno só crescer.
onde estarão os políticos do amanhã,
se as ondas de dor escorrem pelas
sarjetas nos guetos e marcam de vermelho
as parades de extermínios nas favelas?
cadê aquele Messias que prometeram
há 2.000 anos, e ainda ninguém percebeu
que ele não vem? cadê o sentido de viver
para ter o amanhã?
cadê a vida que prometeram aos que
chegassem na Terra Abençoada?
pra quê batalhar se fomos feitos para esperar?
sem saber o quê, é o que fazem: esperam.
para definhar. para disseminar.
uma marca que vai sumir. enlatada
na epiderme da alma.
que não cansa de esperar.



Meu, para o mundo.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Ascenção Musical

os pássaros vão andar de lá pra cá,
enquanto você perambula a procurar
respostas para sonhos frios,
vão batendo asas rumo à costa.
quebra uma, espatifa a segunda,
na terceira você acorda,
sacode a poeira e ajoelha-se
implorando mais vida ao destino
que bateu à porta, sem marcar
horário, sem avisar o carcereiro.
prescreva uma dose de vida
para quem ficar em terra,
rogue pelos pecados que passar
o progresso é lindo, tremulante.
do alto do calvário, seu passado
grita por socorro, pede recesso,
posterga o julgamento ao
entoar Mozart para o precipício.



Meu, para a música do fim.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Fios D'Água

sabia-se desde o princípio que
não seria simples. a batalha é
ferrenha, diária. uma cabeça
de leão por vez. metaforicamente
querendo expressar um pensamento,
uma transformação na vida e
na espera de um futuro telhado,
sem buracos para manter-se
seco das chuvas de verão,
das chuvas de inverno, primavera
e outono. chove todo dia,
pros justos e pros injustos,
igualmente.
todos acham que não
merecem os pecados que têm,
os perdões que precisam distribuir,
as vidas que levam ao redor de si.
e fazem o que pra mudar?
vivem com os pulmões abertos a soprar,
escrevem seus diários e suas notas solitárias.
não mudam nada. não querem nada.
levanta a bunda do sofá, moleque.
vai chorar com a água na canela,
pelo uma outra paisagem, mais uma pra contagem.
para de aguardar a barrragem.
ela não vai sair de lá,
e muito menos aquela vastidão de água.
ela não vai molhar seus fios.



Meu, para o mundo.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Cafuné pro Sinhô Sá

Xico Sá disse querer cafuné.
até aí, quem não quer?
uma mão gostosa na cabeça,
apalpando os cabelos cansados,
cerrando os olhos brancos
pra pensar na vida.
o cearense sabe das coisas,
com sua metalinguística mambembe,
seu suingue na folha branca,
cada rabisco, uma fresta de liberdade,
daquela tão sonhada cena de sombra
co'água fresca. quem não quer?
tu quer um cafuné pra sonhar tranquilo?
polvilho pro cerebelo desacelerar,
ponderar.
um suspiro pra aprender a 'cafunezar'
a calvície do tio, a solteirice do pai
quarentão acalmar.
só quebrando a munheca pra
pessoa amada. mas quebra,
sem dó, sem pejoração ou
gozação. quebra pro cafuné.
quebra mais pro canto da orelha,
pra silenciar o freseni que
vem só vem incomodar.



Meu, inspirado na crônica Saniana do Ceará.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Desfalque a Falta

sabe o que falta?
coerência.
para alinhar os traços
estofar os interiores
vazios dessas almas transparentes
que vagam e vagem por aí, a sambar.
sambam com o pé no chão, sem distinção
do passo torto ou do gingado nacional.
dançam sem pensar na coerência harmoniosa.
simplesmente o fazem para livrarem-se
da dor corrosiva dos dias cinzas.
quer coerência pra quê?
por quê?
por quem?
coerência faz falta, mas não pra sambar.
ela é necessária pra contabilizar os porcos
no chiqueiro sob o luar dançante.
a falta dela prejudica a caixa que
prende o cérebro.
falta coerência pra quem busca.
àqueles que não buscam,
saem a sambar com o raiar do dia.



Meu, para a incoerência da vida.