quarta-feira, 30 de março de 2011

A Fotografia do Início

as retículas assumem o tablado.
cercadas pelos holofotes das ruas,
esgueirados em plena avenida.
luz em abundância.
olhares apaixonados em calçadas opostas,
sorrisos tímidos, frouxos,
inocentemente vis.
a noite é registrada em noir,
saturada no preto,
contrastada no branco,
puro encanto.
mais um feixe de luz surge,
impetuoso, cândido,
flash majestoso.
os mundos atraídos
por uma lente 50mm.
suspeita-se que seja pouco,
em seu pequeno shutter,
poderosa abertura captadora.
falta espaço compositor.
memória Polaroid,
retrato analógico
de mãos dadas
cruzando o Pacífico.



Meu, para o mundo.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Pretérito Imperfeito

eu estava pronto.
você não.

eu queria te fazer feliz.
você tinha medo.

eu queria te mostrar o meu mundo.
você não me deixou entrar no seu.

eu queria ser seu homem.
você não queria ser minha mulher.

eu queria não ser mais um.
você não queria que eu fosse.

eu queria passar noites em claro conversando.
você não estava aberta a conversas.

eu queria viajar pros 4 cantos do mundo com você.
você não queria sair do lugar.

eu queria que vocie fosse só minha.
você não queria ser de ninguém.

eu queria você.
você não me queria.

eu queria, agora, fechar meu coração.
mas não poderia.

você queria partir. sozinha.
e conseguiu.



Eu, que poderia ser todo teu.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Amontoado

eu juro que tentei. inúmeras vezes. de todas as maneiras possíveis. de todos os jeitos que pensei, que tinha usado, que tinha repensado, que tinha imaginado, que tinha. não queria parar de tentar. no fundo, eu não quero. eu não posso. ele não me deixe. ele não quer que eu pare. ele me acorda à noite, sussurrando: “vai! só mais um dia. você consegue. tenta. tenta!” ele me convence. ele me hipnotiza. mas eu não quero mais. será? bom, eu acho que não quero. eu sinto que não devo continuar, que não devo insistir. mas ele vem e cutuca: “demorou pra conseguir e agora quer parar? por bobagem? que foi? ah, agora tá com medo de arriscar?” ele me convence. quase. melhor, ele me convence mas eu não me convenço que ele já me convenceu. é paradoxal, é esquizofrênico. é inusual. já cheguei a cogitar colocar no papel, criar um fluxograma com todas as variáveis e saídas e respectivos desfechos, mas o lápis teima em manchar a folha em branco com pensamentos desconexos, com frases aleatórias. é assim que ando me sentindo nos últimos tempos: dicotômico, para não entrar em pormenores. confusão mental, já teve? daquela que faz você perder os sentidos? daquela que faz você analisar a vida? daquela que faz você pôr em cheque suas convicções, suas vontades, seus desejos? daquelas que demora pra ser solucionada? é intenso. diariamente intenso. e tenso. os músculos relutam para se mexer. é uma luta hercúlea para tirar a perna direita e depois a esquerda e pôr os pés no chão ao mesmo tempo para caminhar pela manhã. o conforto é inebriante. da cama. mas ele me acorda aos uivos, tal como um lobo ao olhar a lua cheia. lua. amantes. namorados. casal. intenso. tenso esse palpitar aqui dentro. esse amontoado de perguntas que seguem semana após semana sem resposta, sem uma nova informação que acalente. mente. você mente pra você? eu tento não mentir pra mim. mas às vezes peco, escorrego nas palavras e sai alguma inverdade. e ela leva a outra, que cria mais alguma em outra esquina, e por assim segue. dá um oi. um olá. nem precisa ser muito enfático, nem linfático. só um oi. a simples aglutinação de duas vogais que, por coincidência, já são próximas uma à outra. claro que quando pedem para você falar só as vogais. senão, elas estão distantes algumas letras, mas anseiam o momento de serem escritas juntas, lado a lado. tecla depois de tecla. só falta reluzirem, igual a estrela que dei pra ti no nosso encontro. que apontei e nomeia-a com teu nome. teu lindo nome. em você ele fica lindo. orna. combina. casa comigo. de mãos dadas. sorrisos unidos. lábios entrelaçados. mas o oi está distante. no horizonte que os hermanos profetizam em uma bela canção, e eu quero ver, quero que você veja, quero que a gente veja esse horizonte distante.



Meu, para alguém.

terça-feira, 15 de março de 2011

Respire

continue.
corra.
prossiga.
avance.
siga.
caminhe.
ande.
pedale.
patine.
galope.
acelere.
trote.
esquie.
nade.
adiante.

inspire

retroceda.
regrida.
atrase.
desacelere.

expire.

ame.
abrace.
beije.
chore.
grite.
bata.
afague.
xingue.
aperte.
agarre.

respire.



Meu, para o mundo.

sábado, 12 de março de 2011

À Espera

vem sorrir pra mim;
vem,
corre pra mim,
abre os braços pra mim,
vem,
se joga em mim,
recosta seu rosto em mim.

vem,
feliz pra mim,
vem.

vem andando
até trombar em mim,
vem cambaleando pra mim,
te escora em mim.

vem correndo pra mim,
deixa a estrada ver seu Sim,
vem pra mim.

sorrindo,
abraçando,
beijando,
amando.

vem pra mim.
vem.

sem saber,
sem temer,
sem sofrer.

vem.
sem se importar com o fim.

vem pra mim,
sorrir até o fim,
com o seu Sim.



Meu, para...

quinta-feira, 10 de março de 2011

Abri

só ouve. não fala.

deixe eu dizer o que tem aqui dentro,
no centro do peito,
batendo no ritmo,
descompassado pelo seu sorriso.

só preste atenção,
antes de mais nada.

só quis te dar de tudo;
muito de cada coisa,
um pouco do meu coração,
quase toda a minha razão.

só ouve com calma,
minha linda donzela.

coloquei meu sentimento
nas tuas mãos. em vão?
larguei do passado,
pra correr pro futuro.
juntei meus sonhos, tranquei-os,
te dei a chave para liberá-los.

ouve meu coração,
batendo em sua direção.

pulsação sem freio,
sem chão,
no desnorteio.

ouviu?



Meu, para ela.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Uma Folga

queria ter uma folga de mim.
uma folga dos pensamentos ininterruptos, sejam bons ou ruins.
uma folga das preocupações que foram acumulando-se: as contas atrasadas, o risco de despejo, as relações familiares, as divisões familiares.
uma folga dos dias intermináveis.
uma folga das desiluções da vida.
uma folga das noites de insônia.
uma folga das manhãs frias que gelam a alma.
uma folga das tardes sonolentas.
uma folga das pessoas com quem me relaciono.
uma folga das brigas.
uma folga dos desentendimentos.
uma folga dos esquecimentos.
uma folga dos compromisso.
uma folga das oportunidades deixadas para trás e das que estão por vir.
uma folga das mesmas músicas.
uma folga dos meus e-mails.
uma folga do meu msn.
uma folga do famigerado Facebook.
uma folga das tecnologias.
uma folga dos meus livros já lidos e dos que ainda faltam ler.
uma folga das histórias em quadrinho que empilham na minha escrivaninha.
uma folga da melancolia.
uma folga das alegrias disfarçadas em máscaras diárias.
uma folga das mentiras que todos contam, inclusive eu.
uma folga das verdades absolutas que mudam a cada 15 minutos.
uma folga das risadas forçadas.
uma folga das mesmas notícias calamitosas que estampam as páginas dos jornais e dos portais dos jornais.
uma folga da política gonzo que foi instaurada mundialmente.
uma folga dos conflitos armados.
uma folga das manifestações que só amontuam corpos para serem recolhidos depois.
uma folga dos vídeos engraçados.
uma folga dos clipes que são passados em “repeat” na programação dos canais musicais.
uma folga do falso senso de liberdade.
uma folga do trânsito da megalópole.
uma folga dos mendigos pedindo dinheiro nos semáforos.
uma folga das crianças vendendo bala-chiclete-chocolate-água-refrigerante e tudo o que mais possa existir, no semáforo.
uma folga das fofocas.
uma folga das frases feitas.
uma folga do apoio amigo.
uma folga das pessoas que se vão e deixam saudade.
uma folga do despertador.
uma folga da caneta e do lápis.
uma folga do coração.
uma folga dos sentimentos trancafiados a sete chaves.
uma folga do amanhã.
uma folga do fim.
queria uma folga de mim.



Meu, para a folga que não há de vir.

terça-feira, 1 de março de 2011

Enquanto Lá

do quarto dela,
emoldurados na trama da janela.
plenos em pleno voo.
disparates do destino.
mostram-me o horizonte,
colorido em pincéis de aquarela.
moldados,
no sorriso dela.



Meu, para ela.