Fazia tempo que não abria o documento para escrever. Melhor ainda, o documento sempre esteve aberto, em branco, nos últimos 20 dias. Mesmo período em que seu laptop permanecia, heroicamente, ligado. E plugado na fonte carregadora. Se isso iria resultar em danos e futuras manutenções não importava, o que ele queria era ter acesso às suas coisas quando bem entendesse. Menos aos programas de mensagem instantânea. O círculo azul na barra de ferramentas e os números em seu celular para envio de sms já eram mais que suficientes. Auto-suficiente. Intrasigente desde sempre. Meio isolado do resto do mundo, recebia convites pelas redes sociais, nunca dando um parecer se iria ou não comparecer às festas e aos eventos que era convidado. O checkbox eram sempre ticados, mas não deveriam ser levados tão a sério pelas pessoas. Ticava para brincar, ocupar seu tempo livre e sua mente incessante com coisas triviais acalmava sua alma e deixava seu ânimo equilibrado, sem correr riscos de cair em depressão e sem racionalizar demais sobre a vida.
Partia de um lado para o outro da casa, lotada de roupas, lotadas de brinquedos, de toys, de espaço livre para muito mais coisas que iria comprar. “Consumismo consumindo o consumo do consumista”, disse ele para si mesmo, enquanto escrevia tais dizeres na parede ao lado da porta de entrada, que dava de frente para o balcão da cozinha. Sua estante de livros, arqueada, evidenciava que um reforço em questão de semanas seria necessário para prevenir um desastre iminente. O post-it na geladeira jazia com a anotação: Comprar parafusos, ou o que quer que seja o nome do material que dê reforço à estante. Abriu a geladeira, serviu-se do suco de laranja, que obviamente já estava no final da caixa, obrigando-o a tomar apenas metade da metade de um copo, o que lembrou-o de outro problema: o estoque de comida estava chegando ao final, teria que sair para comprar comida, suco, frios e mais algumas coisas que encontrasse no mercado. TInha parado de beber, então seu custo mensal de alimentação e bebidas tinha descrescido consideravelmente, além do seu físico ter melhorado significativamente. Fechou a porta da geladeira, não antes de pegar um pedaço de queijo e um de presunto e fazer um rolinho para comer. A porta bateu enquanto batiam na outra porta. “Vai, cara. Levanta essa bunda do sofá.” “Merda, sempre esqueço de arrumar a campainha. Já vai.” Antes de atender, escreveu em outro post-it, que afixou na borda da TV: “Consertar campainha.” “E aí, como que tá? Tá pronto?” “Tranquilo, meu querido. Pronto pra quê?” “O cinema. Esqueceu? É daqui 30 minutos.” “Me dá 5 que já saímos.” “Merda. Ok.” Nunca tomou um banho tão rápido em toda sua vida. Em menos de 5 já estava fora do banho, e em questão de mais 1 minuto acrescido ao timer estava pronto, fechando a porta do apartamento. Sua mão esgueirou-se pra puxar a chave geral que desligava todas as luzes, deixando apenas a geladeira em funcionamento. Dica do seu chefe. “Sábio”, pensou novamente consigo mesmo.
Descendo as escadas do 2º até o térreo, seu telefone tocou.
“Namorada” dizia o display. Toque do celular: The Album Leaf / Always For You
“Oi. Tudo bem?”
Meu, para o mundo.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
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2 comentários:
Texto lido. E confesso que baixei a música do final porque não conhecia. Gostei dos dois. ;D
Sem comentarios... ja te disse e digo de novo.. adoro seus textos.... vc escreve muito bem... PARABENS
bjos
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