Sentado em um quarto escuro estava ele, Gustavo, pensando sobre a sua vida, o que podia fazer para melhorá-la, e por mais esforço que fizesse não encontrava uma saída. Diversas anotações em seu caderno de bolso, palavras sem sentidos e ao leu, mas em sua mente acelerada e confusa elas faziam tanto sentido quanto as coisas que havia aprendido na escola.
Foi então que resolveu tomar uma atitude. Decidiu escrever qualquer coisa que viesse à tona para ver se em algum de seus devaneios literários estaria a resposta para as suas interrogações. E começou então a sua jornada escrita, rabiscando letras e pontuações sobre os mais variados assuntos, desde coisas do cotidiano e trivialidades até filosofia e suas opiniões sobre música.
Cada dia que entrava era um novo aprendizado para ele. Jamais poderia imaginar que tivesse tanta cultura e o seu vocabulário – Nossa! – nunca havia pensado que fosse tão culto e extenso. A sua viagem pelo mundo das letras parecia um sonho. Em cada canto que fosse levava consigo um bloco de folhas em branco, e em questão de minutos já tinha preenchido folhas e mais folhas de teorias e criava ainda mais indagações à medida que ia escrevendo.
A noite caía e nem sequer se preocupava em não ter comido nada durante o dia, e isso era uma constante em sua vida. Faziam mais de 2 semanas que não se alimentava direito, simplesmente por não ter tempo, já que os seus manuscritos consumiam boa parte de seus dias. Mas não era algo que lhe incomodava, a falta de comida. Ele tinha mesmo era fome de escrever, de encontrar as respostas, de entender porque justo agora resolveu procurar isso.
E adentrava em mais uma madrugada. As gotas da chuva trepidavam nas janelas do seu quarto – talvez fosse granizo, mas não tinha tempo para reconhecer – e o som ecoava pelos cômodos vazios da casa, como uma nota sombria que se propaga em um castelo mal-assombrado.
Acordando no dia seguinte, olhou o que tinha escrito antes de cochilar e penetrar em um sono profundo e uma palavra em específico lhe chamou total atenção. Sem saber o motivo, tinha rabiscado no canto do bloco o nome de sua ex-namorada, que havia falecido há três anos.
Não pensava naquilo já a um bom tempo, e se perguntava por que justo agora lembrou dela, e ainda mais o que ela tinha que ver com a sua busca por respostas. Talvez tivesse tudo conectado de alguma forma, mas não compreendia ainda. Muito cedo para ver as coisas de uma maneira mais ampla. “Necessito refletir sobre o assunto” – pensou Gustavo enquanto fazia uma omelete e espremia as laranjas em um copo na pia da cozinha.
Subiu para o seu quarto, colocou a primeira peça de roupa que viu na sua frente e saiu de casa, ainda sem rumo. No meio de sua caminhada pensou em Estela, sua ex, e decidiu ir visitá-la no cemitério. Deu sinal ao primeiro táxi, disse o destino e aproveitou a viagem para ir fazendo mais reflexões e continuar a preencher as páginas em branco do seu bloco.
O táxi parou no local indicado no começo da viagem. Pagou a corrida e sem agradecer saiu do carro. Estava conturbado em ter que voltar lá. Desde o enterro tinha ido apenas uma vez para pedir desculpas por não ter estado ao lado dela quando mais precisou, por não ter sido um bom amigo. Mesmo assim, sentia que ainda exista uma espécie de dívida com ela. E agora chegou a hora de pagar com os devidos encargos.
Entrou pé ante pé pela enorme porta, que mais parecia o Arco do Triunfo de Paris. Sem ter dado dez passos, uma ansiedade tomou conta de seu interior, e teve certeza que ela estava lá, esperando por um regresso como sempre esteve.
Depois de alguns minutos procurando o túmulo – era difícil lembrar o lugar exato, pois não havia lápide ou qualquer tipo de inscrição no local. Enfim o encontrou. Nele, apenas a grama verde viva e algumas pétalas de flores que restaram, crer ser de a última visita que fizeram a ele.
Uma ausência de pensamento e sensações acometeu o seu espírito naquele estágio frágil, que nem lembrava a última vez em que isso tinha ocorrido. Nada para falar, para pensar, para sentir, para entender, perguntar, refletir. Nada. Nada, simplesmente Nada.
O dia transcorreu e lá ficou ele parado, inerte a tudo e a todos que passavam por ele. Nada o afetava. A folhagem das árvores que hora tremiam e caía sobre ele, o vento que levantava a poeira em seus olhos, os chamados do coveiro que gritava: “Temos que fechar! Ei! Você aí!”. Só depois de uns quatro ou cinco chamados, Gustavo resolveu se despedir e ir embora.
Hora de regressar. ‘Mas qual caminho seguir? O que aconteceu no cemitério? Porque não consegui falar nada? O que foi aquele silêncio? Fiquei tão afetado assim?’ Era somente nisso que conseguia pensar.
Não conseguiu escrever nada aquela noite. Sequer uma mísera palavra, ou o começo de uma frase. Estava sem idéias. Pensou que a visita ao túmulo foi um erro. Um dos maiores que tivera feito em toda a vida.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
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