Começou como qualquer outro dia. O esfregar de olhos ao sentar-se na cama pela manhã, retirando a areia sonífera que ainda repousava sobre seus olhos milimetricamente desenhados para serem como são, entre abertos e observadores.
Alguns segundos após o despertar sonâmbulo, levantou-se e foi rumo ao banheiro para tirar o cansaço embaixo da cachoeira elétrica, fixada à uma parede branca de azulejos encardidos. Aproveitou para escovar os dentes, não lembra ao certo se chegou a barbear-se, afinal iria ver a menina com quem estava ficando - mal sabia ele o que estava reservado para este dia - na noite daquele dia.
Enxugou-se, trocou de roupa, meticulosamente predeterminada para agradar a uma só pessoa. Pegou o Ipod que estava recarregado e ainda conectado ao cabo USB, colocou seu celular no bolso direito, como sempre faz, sua carteira, quando ainda usava uma. Passou a mão nas chaves do carro e foi em direção a porta. Colocou sua chave, repousada ao lado esquerdo em uma bancada, como que fosse digna do sono dos deuses. Inseriu-a na fechadura e girou-a duas vezes para a esquerda. Envolveu a maçaneta com a mão direita e abriu.
Fechou a porta, dispôs novamente da chave na fechadura e trancou a porta. Chamou o elevador. Sentiu que agora seu dia havia começado. O saltitar do coração interior à caixa toráxica indicava que estava vivo, pronto para mais um dia de labuta e realizações.
Caminhou o mais conhecido trajeto de sua vida, o do estacionamento. Por entre vagas e carros, passava, pé ante pé, até a distância mínima que alcançava o alarme do carro para ser destravado. Abriu a porta com a mão direita, jogou sua mochila despreocupdamente no banco do passageiro, adicionou a chave ao contato e deu partida na ignição.
Saiu do prédio. O ritmo frenético das ruas logo tomava conta de seu corpo, seus pensamentos e seu foco. Levou aproximadamente trinta minutos para chegar à agência onde trabalha até hoje.
Esta parte da história todos já sabem muito bem, principalmente a leitora para qual este texto é destinado. Por isso, pularei para o quase final do dia, onde realmente, o que havia de interessante para ocorrer, ainda era reservado ao publicitário.
O final do expediente se aproximava, e nada mais pensava, a não ser em ir para casa da garota que ansiosamente esperava ver, antes de finalmente voltar para casa e dormir, apenas esperando o próximo dia recobrir seu sono e dar-lhe vida renovada.
O percurso foi longo, deveras cansativo em alguns pontos, mas nada desfocava sua atenção e seu objetivo. Já naquele estágio, seu coração clamava por ela, rogava que o dia passasse depressa para poder estar no mesmo cômodo que sua outra metade. Mesmo ali, sensações incompreensíveis e encantadoras debruçavam-se sobre ele. Seu pensamento era tomada por ondas de calmaria e deslumbramento. Ansiedade e nervosismo. Suas mãos suavam frio, o coração acelerado, os batimentos rítmicos de duas válvulas em funcionamento e uma em repouso.
Finalmente, chegou à casa. Nada estava programado. Só que iriam se ver. Ficavam sempre na sala, assistindo televisão, conversando. Abraçados como o laço dos cadarços de seus All-Star surrados e sujos, mas com uma beleza transcendental.
Não lembra-se do filme exatamente que assistiram, enquanto deitados no mesmo sofá, entrelaçavam seus dedos, que fundiam-se como o mais belo dos metais, para formar o círculo perfeito da união dos corações.
Entre flashes de filme na tv, beijos longos e acalorados, os dois uniam-se cada vez, como as plantas que sobem e recobrem as paredes arquitetônicas das fachadas de casas suburbanas e eletistas.
Mais rápidas piscadas de olhos para a televisão, não sabia mais o que se passava. Apenas via personagens, trilhas sonoras, nem sempre concordantes, mas muitas vezes condizentes com alguma lembrança ressurgida das tempestuosas mentes que emaranhavam-se nos blocos de mola, recobertos com couro claro, e cobertos por um manto felpudo e amarelo.
Faltavam apenas frações de segundos para a pergunta que mudaria para sempre suas vidas.
Nada programado. Impulso. Ele já havia pensado, mas estava receoso sobre a aceitação do pedido. Nem por um minuto, vislumbrou que ela pensava em fazer aquele convite, e ela, sem a menor certeza que alguém pode ter, perante uma vontade absurda de ser correspondida, fez o pedido mesmo assim.
A resposta foi simples, objetiva, terna, e sublime. Um mero Sim!, que para eles, ele deitado sobre ela no sofá, admirando toda a sua beleza: seus olhos castanhos com os traços azulados negros ao redor de sua íris. Seus lábios carnudos e macios, clamantes por beijos apaixonados, seu nariz fino, talhado a perfeição em seu rosto minuciosamente desenhado pelo mais famoso dos artesãos.
Ele sabia que ela, a garota de seus dias e pensamentos, mudaria a sua vida para sempre, e já tinha começado o processo há muito tempo atrás.
Agora era apenas uma questão de tempo para que os dois amassem-se cada dia mais, desesperadamente.
Tempo para que seus corações pulsassem em uníssono e ritmicamente. Para que o sentimento, cada vez mais crescente, tomasse proporções nunca antes experimentadas e vivenciadas por ambos.
Ele, agora, sentia-se completo. Nada mais estava faltando.
O laço do cadarço de seu coração fora amarrado com perfeição. E ela, a definição de tudo o que ele sempre quis. Todos os pingos nos is estavam pintados. E todos os que ainda não estavam, em questão de uma vida inteira, seriam colorizados.
Ela completa ele. E ele, só tem a agradecê-la pelo pedido feito.
E então, começou o compartilhamento de uma vida inteira.
Ele e ela.
Os dois. Em dois. Por dois. Para os dois.
O dia Doze de Setembro de Dois Mil e Oito foi, é e será, sempre, fundamental para estas duas vidas conjugadas no passado, vivenciadas no presente, e esperançosas pelo futuro.
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