quarta-feira, 30 de junho de 2010

Por quê, Nação?

O verde bandeira da flâmula
Brilho da fauna patriota,
Sinal de vida inteligente,
Vida sinalizante, recorrente,
Bela e traumatizada.
Mescla de losângo amarelo,
Inteiro, vasto em dimensão,
Pequeno para tanta terra.
Liberdade e progresso na faixa azul,
Símbolo de esperança e ordem.
Imerso em desordem,
Cúmplice dos temerários engravatados,
Aliado dos grandes corruptos.
Brilha apenas Uma.
Ofuscam as outras Vinte e Seis.
Pátria amada, idolatrada,
Decadente. Levemente senil.



Meu, para o mundo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Chegou a Vez Mais Uma Vez

Chegou a vez do coração bater novamente. Ritmado, em clima de Carnaval. Público lotado, cadeiras recheada. A plateia não consegue respirar de tão lotada. Não se tem como levantar os braços para comemorar ou soltar aquele grito engasgado na garganta. Só resta sorrir. Mostrar os dentes para o horizonte sem fim, enfim, feliz no interím.

Chegou a vez dos pulmões respirarem leves novamente. Lufados e estufados pelo ar puro das planícies selvagens, habitadas por animais campestres regozijantes em tamanha relva recém-descoberta por aqueles pulmões virgens. Ao fundo, ouvem-se as quedas da cachoeira que sua alma há tanto sonhava em reencontrar. Perímetro inviolável da natureza, agora violado pela felicidade de seus aovéolos e brônquios.

Chegou a vez dos olhos marejarem de felicidade novamente. Felicidade por ter encontrado outrém em mesma situação. Felicidade por ter seu espírito tranquilizado e afagado por braços firmes e por um coração amolecido esplendoroso. Demorou tempo suficiente para seu corpo tomar sua forma antiga e preparar o terreno da alma e estar receptivo às influências externas mais uma vez. Os olhos agora têm outra menina. As íris detectam cores há muito apagadas, e há pouco re-descobertas. A retina brilha, cintilante, como a primeira estrela a dar o ar da graça no céu quando a noite nasce, avivando a claridade no coração dos apaixonados. A luz da Lua é ofuscada por estes olhos novos, vívidos. Altivos. Agora, reativos.

Chegou a vez das mãos transpirarem novamente. Ansiedade à flor da pele. As transpiração atrapalha no digitar, mas empolga, por saber que muito mais dela vem aí. E junto, aquele palpitar desenfreado, quase taquicardiáco. Junto a ela, vem muito mais, vem o frio na barriga, o medo de pisar em falso, o medo de errar, dizer alguma palavra que vire o rosto, que quebre o encanto. Comedido. A transpiração comedida sem medida, feita sob medida para este novo momento.

Chegou a vez de ser o da vez novamente. O da vez para alguém especial, aquele alguém que precisava justamente deste outro apagado. A vez de sorrir com o raiar do sol, de madrugar por aí, sem rumo, deixando para trás qualquer documento que lhe prenda ao passado. A vez de novos escritos, de novas frases, inventadas, nunca reutilizadas. A vez de ser completo. O quebra-cabeça finalizado, preparado para ser pendurado na parede, não como prêmio, mas como obra. Arte em seu primor. Apenas.

Chegou a vez mais uma vez.



Meu, para o mundo.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Abrir. Fechar.

Abriu os olhos para o raiar,
Abriu a janela para o sol,
Abriu a cortina para o domingo,
Abriu o coração e deu abrigo.

Fechou a cortina para a lua,
Fechou a janela para rebater o frio,
Apagou as luzes para sonhar
Cerrou os olhos para amar.



Meu, para o mundo.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Frame por Frame

Os dias começavam cedo. Saía da cama por volta das 4:45, todos os dias. Tinha sono leve. Qualquer respiração mais profunda ou um suspirar mais intenso o acordava. Tinha um hábito odiado por todos os que moravam com ele: sempre que chegava em casa, de qualquer lugar, colocava seu iPod no dockstation e ligava-o.

Assim que saía da cama desligava o iPod que tinha passado as últimas 2 horas tocando incessantemente. Coçou o cabelo como faz rotineiramente, entrou no banheiro, trancou a porta, jogou uma água no rosto. Ligou o chuveiro e deixou-o esquentar enquanto se despia.

TOC. Transtorno obssessivo compulsivo. Tinha esse mal também. Fazia as mesmas coisas durante o banho. Lavava a axila esquerda e depois a direita. Descia para as pernas, subia para o pescoço, descia para a pélvis. O cabelo era a última parte a ser ensaboada, não com sabonete, obviamente.

Saía do box depois de 10 minutos, aproximadamente, enxugava-se, tirava a escova de dentes do pote, passava a pasta de dente e começa a rotina da escovação. Esquerda, direita, em cima, embaixo, no fundo, os da frente. Bochechava duas vezes, enxugava os lábios e depois sorvia um belo gole de antiséptico bucal. Gargarejava por uns 2 minutos, conforme instruções na embalagem, seus olhos sempre lacrimejavam por causa do álcool na composição. Enxugava os olhos com os dedos indicadores, cuspia o líquido na pia, abria a torneira para limpar o que havia sobrado e saí do banheiro. Apagava a luz.

Ficava uns 2 minutos olhando para o seu armário sem portas, com todas as roupas expostas e alinhadas, como um pelotão do exército esperando a ordem do capitão sobre o passa a seguir.

Cuecas na segunda gaveta. Meias na primeira. Pertences aleatórios e bugigangas na terceira. Na quarta, ele guardava o seu passado. Cuecas pretas, apenas. Prefere assim. E em toda viagem de ano novo, tinha que comprar uma cueca branca para passar a transição do ano. Sempre a mesma ladainha, mas respeitava o significado. Preto tem sido sua cor favorita nos últimos tempos. Até no sol, ele sai de preto. Camiseta. E se arrepende assim que o sol bate no seu braço pendurado para fora do carro, em cima da manga preta. Ovo. Resume bem o que ele sente no momento, o calor a cor retém é passível de se fritar um ovo. Gema mole talvez, para molhar o pão francês.

Mal humorado pela manhã, evita manter diálogo com seus colegas de trabalho até o almoço. Sempre sai de casa sem tomar café. No máximo abre uma lata de Red Bull e vai tomando no carro. Os 2 últimos anos, elas, as latas, têm sido suas fiéis companheiras. Jogadas pelo carro, espalhadas por todos os cômodos do apartamento, mas, em demasia, empilhadas na parede de seu quarto. Se bobear até no banheiro deve ter uma. Mas não lembra com exatidão neste momento.

O dia passa devagar. E mais a cada dia, insatisfação pessoal. Quer dar uma reviravolta em sua vida, quebras os padrões, deixar os sentimentos e as ideias realmente fluirem. Não quer dar satisfação para sua namorada, nem para ninguém. As ligações às vezes são infinitas em sua percepção. Bastam 2 minutos: “Oi, tudo bem?” “Tudo e com você?” “Tranquilo.” “Saudade. Não te vejo desde sábado. Já é quinta. Vem me ver?” “Claro. Assim que sair, te dou um toque. Te amo.” “Eu também te amo.” “Beijos, linda.” Suspiros. O celular em sua mão fica mudo. Essa é a ligação perfeita. Sem enrolação, breve, porém sincera. Verdadeira. Amável.

Volta para a lente da câmera. Fotos e mais fotos. Descarregava o memory stick no computador. Selecionar as fotos é a parte mais gratificante, consegue avaliar o que fez de errado em cada foto, onde acertou na iluminação, onde pode melhorar quando for fazer o tratamento. Duas horas para concluir a transferência. “Foto pra caralho!”, pensa ele enquanto abre o iTunes.

Sua playlist é ridiculamente gigante, mas acaba sempre escutando as mesmas bandas, e as mesmas músicas das mesmas bandas. Cumpre todo o alfabeto, mas não ouve nem metade das letras. Tem preferência pela P, M, S, L. Cochila na cadeira. Começa a viajar, seu pensamento vai longe, entra em alpha, quando menos não vê, tá sonhando. Seus pés andam sobre a água do Lago do Ibirapuera. “Não é possível. Nem cristão eu sou. Como que posso estar aqui? Assim?” Registra o momento com uma foto, sua câmera sempre em posição e pronta para o disparo. Uma rajada de cliques. “Consigo montar uma panorâmica, se bobear.”

(Fyfe Dangerfield / When You Walk In the Room)

Susto. Estrondo. Cadeira no chão. Ele acorda desesperado. Respiração ofegante. Demora até cair em si de que seu celular está tocando. Ele começa a sambar sobre a mesa, enquanto a música embala, ritmicamente, o trepidar do aparelho no tampão de vidro.

(Display do celular - .... Namorada)

“Oi, amor”.



Meu, para o mundo.