E a janela clareou
Seus olhos se abriram
Para o mundo ver mais lindo
Revirou-se no sofá
Pegou o controle
E mudou de canal
Nada na programação matinal
Apenas o pensamento
Constante e sincero
Da saudade a repetir em loop
Uma saudade suntuosa
Cheia de camadas
E repleta de desníveis
Pôs-se sentado
De frente para o tubo de imagens
Faltou-lhe o ar nos pulmões
Agarrou-se ao remoto
E teclou números aleatórios
Sem nada que gostasse
Desligou a televisão
Reuniu forças pra levantar
Mas seu corpo estava fraco
Perene, como se estivesse morto
Seu pensamento viajou mais um pouco
Glândulas começaram a processar a vida
Serrou os olhos por um momento
Tempo suficiente para que a primeira
Começasse a descer a ladeira da epiderme.
Soluçou como uma criança
Copiosamente e sem guarda
O escudo tinha se quebrado
O coração estava confuso
Profusamente saudosista
Recolheu suas pernas para cima
Jogou a manta sobre seu corpo
Serrou os olhos lagrimais
E entregou-se a Morfeu