paciência tá em falta hoje.
assim como ontem,
semana passada e há 8 anos.
primeiro acesso de raiva,
estraçalhou a paciência igual
tiro no alvo de papel cartão, com azul
em preto tracejado.
aquele palavrão entrou no cérebro
igual ninja, completamente indetectável.
e avassalador. o grito do bebê
tal uivo de lobo para a lua cheia
aumentava e perfurava os vidros,
paredes, incendiava cortinas e as bordas
das janelas. apocalipse sonoro do dia a dia.
saía música do fone de ouvido do cobrador
sob a luz do meio-dia, o bafo
escaldante dentro do ônibus. "haja paciência",
silabou o homem ao lado.
mal sabia ele, daquelas palavras,
usaria a segunda como
estopim do fim
dos futuros sonos pacíficos.