quarta-feira, 18 de julho de 2012

Pavio Vindouro


paciência tá em falta hoje.
assim como ontem, 
semana passada e há 8 anos.
primeiro acesso de raiva,
estraçalhou a paciência igual 
tiro no alvo de papel cartão, com azul
em preto tracejado. 
aquele palavrão entrou no cérebro 
igual ninja, completamente indetectável.
e avassalador. o grito do bebê 
tal uivo de lobo para a lua cheia
aumentava e perfurava os vidros,
paredes, incendiava cortinas e as bordas
das janelas. apocalipse sonoro do dia a dia.
saía música do fone de ouvido do cobrador
sob a luz do meio-dia, o bafo
escaldante dentro do ônibus. "haja paciência",
silabou o homem ao lado.
mal sabia ele, daquelas palavras,
usaria a segunda como
estopim do fim 
dos futuros sonos pacíficos.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Trepidante Solar


a paisagem não passa nada
nem alegria, nem sofrimento.
o sol bate no vidro da janela
e atinge o rosto. calor transparente,
enquanto o vento passa pela fresta
da porta e o redomoinho dos cabelos
caídos levanta. 
cônicos, bailam no ar com uma 
sincronia impecável. destestável perfeição.
leviandade do onisciente que faz
as ondas quebrarem na orla da
inconsciência. 
salvador das asas, inabalável
beija-flor na tempestade,
fuja já. antes do anoitecer
cegar sua visão molhada.
disparate do destino
jogando pedras no teto de papel
marchê e celofane. 
arremessa outra mais. 
pra aumentar a claridade 
nas pontas dos pés da raíz.