segunda-feira, 23 de abril de 2012

Empoeira[n]do


esses olhos já brilharam.
cadenciados pelo novo
inspirados pelo raiar
do dia.
sossego na rede,
alma pesada, penada
sem mais forças pra seguir
vontade mínima de continuar.
esses olhos já brilharam.
incandesceram e cansaram.
resta o pó do crematório,
alguns papéis espalhados,
com rabiscos ilegíveis.
o pó em cima dos móveis
marcando a silhueta do lápis
nenhum pingo no i vai manchar
a folha. 
ela ficará em branco
lá no seu canto. amassada.
amarelando, sem sentir alguém
engatinhar sobre si.
só restará o pó caído 
das janelas, 
assoprado das cortinas. 
de tudo, sobrará o pó.
de todos, nada além do pó.
varrido para baixo
do tapete.



Meu, para a poeira que fica.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Não Há Cópias. Obrigado.

o pior é acordar
e não ver-te
do lado.
fungando no cangote
de outro[s]
sem disparate,
quero-te de ficante,
amante. inebriante
aquele perfume de lavanda
trancado na sacola largado
na varanda que transbordou.
aquele fim era o início
da maratona da poligamia.
o desespero bateu
à porta e pediu,
chorou aos pés do batente:
"deixa eu entrar e brilhar
o que a culpa encardiu?"

[mas] você levou a chave.



Meu, para os chaveiros 24 horas.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Fumaça e Cascalho

as rosas continuam vermelhas
no meio da chama reluzente
do frasco verde, os tiros
na Columbia Francesa resvalam,
blocos de concreto espatifados,
ricochetes atingem pombos,
placas, passantes, feirantes, amantes.
baladadas entoam o apoteótico início
das trombetas celestiais.
Gomorra foi o prelúdio, Sodoma,
o primeiro passo pro fundo.
Brasília vai encharcar no
próprio suor do labor fiscal.
ligue a TV. queime um livro.
acenda a luz da ignorância
feche a porta e passe a tranca
na escuridão da inteligência.



Meu, para um abrir de olhos.